São Paulo

716 km de faixas foram democratizadas, e não tiradas dos carros

Imagem: Lucas Chiconi – Diurbe São Paulo

Reportagem do jornal “O Estado de São Paulo” deste domingo intitulada “Gestão Haddad tira 716 km de faixas dos carros” mostra uma série de dados que levam a impressão de que o administrador da maior cidade brasileira declarou guerra ao meio de locomoção individual motorizado.

Porém, algumas informações descritas na reportagem carecem de interpretação, e outras informações estão simplesmente ofuscadas. A começar pelo título, que já soa de que os pobres motoristas não podiam perder seu espaço sagrado na ruas. E as outras pessoas que se locomovem, que são a maioria?

Pesquisa divulgada no dia 17 de agosto de 2011 pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) em parceria com o Ibope, revela que 61% dos brasileiros utilizam transportes coletivos para suas viagens, onde 34% das pessoas usam os ônibus. O carro aparece com menos da metade, com 16% das locomoções das viagens. (leia mais)

O texto também passa uma informação um tanto questionável quanto ao número de faixas suprimidas por espaços destinados ao transporte público e as ciclovias. As vias para bicicleta não foram instaladas em faixas de rolamento, e sim em faixas de estacionamento dos carros.

Os automóveis “perderam” em vias onde foram instaladas as faixas de ônibus. Na verdade esta frase esta errada. O correto seria dizer que as faixas de ônibus tornaram os espaços mais democráticos. Nos horários de pico, 78% das principais vias são dominadas pelos automóveis, porem só transportam 28% dos paulistanos, revelou dados da CET em 2012. (leia mais).

Outra informações equivocada diz respeito a velocidade dos ônibus: “O espaço foi entregue aos ônibus, que circulam mais lentamente ainda em toda a cidade, a 16 km/h no mesmo horário”. A frase da a impressão de que as estruturas não ajudaram no deslocamentos dos ônibus. É preciso separar os trajetos que possuem faixas, e os que os veículos coletivos dividem espaços com os demais. Nas faixas de ônibus, os coletivos ganharam 68,7% em velocidade. (leia aqui). Em vias sem as faixas, a velocidade dos ônibus caiu, assim como os carros

O texto ainda tenta minimizar o uso da bicicleta, como sendo irrelevante. “…Se você dobrar a quantidade com elas, ainda será muito pouco. O que é preciso é mais investimento em transporte público…”. diz o consultor e arquiteto Flamínio Fishmann. Em primeiro lugar, um investimento não excluí o outro. Os gastos com ciclovias até então foi de R$ 33 milhões. “Uma unica edição do Formula Indy consumia R$ 35 milhões”, disse o prefeito Fernando Haddad. O número de ciclistas em São Paulo em 2012, era maior do que os de taxistas (leia aqui).

O texto não menciona de que as novas ciclovias podem ser indutoras de demanda. Só na Avenida Paulista foram 379% a mais de pessoas que pedalaram após a instalação das ciclovias (lembre aqui).

A reportagem também não diz que além de ser o grande agente causador de trânsito na cidade, o meio de locomoção individual motorizado é o maior responsável pela poluição atmosférica. (leia aqui).

Sobre o autor do post

Renato Lobo

Paulistano, profissional de Marketing Digital, técnico em Transportes, Ciclista, apaixonado pelo tema da Mobilidade, é o criador do Portal Via Trolebus.

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