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Um século e meio de uma ferrovia: passado, presente e futuro da Linha 10 da CPTM

Olhar para a Linha 10-Turquesa da CPTM é olhar para uma das ferrovias pioneiras do país. A São Paulo Railway Company (SPR) inaugurou o eixo de transporte em 1867 para interligar os municípios paulistas de Santos a Jundiaí. Falar da ferrovia que corta o ABC é contar um pouco da história da região, marcado historicamente por ser o primeiro centro da indústria automobilística brasileira.

Santo André, por exemplo, tinha o nome de São Bernardo, pois era um local pouco movimentado, sendo a estação mais próxima do centro da freguesia de São Bernardo, na época, pertencente ao município de São Paulo. Assim como Mauá, Santo André cresceu a partir da consolidação da ferrovia durante o século XX.

A medida em que a área da região metropolitana de São Paulo foi sendo formada, a ferrovia foi tomando a caraterística de um serviço metropolitano. De acordo com o site Estações Ferroviárias, em 1975, o movimento da estação foi de 6.780.434 passageiros, sendo que, destes, 6.491.971 (95%) eram de trens de subúrbio. Em 1996, o trecho deixou de abrigar trens de passageiros com destinos a Santos.

Renato Lobo | Via Trolebus

Hoje a Linha 10 tem basicamente dois papeis. O fluxo de passageiros que se desloca dentro do ABC, que faz a viagem, por exemplo, de Mauá até São Caetano, e o usuário que se desloca na região metropolitana, por exemplo, de Santo André até Tamaduateí, Brás, Luz e Barra Funda, que são estações de integração.

Com o passar das décadas, a linha foi ganhando mais usuários e houve melhorias do serviço. Mas o atendimento ferroviário está longe de estar em sua plena capacidade se comparar com outros sistemas de transportes de massa. Há trechos, por exemplo, que o espaço entre trens ainda é de quase 1 quilômetro, muito superior a 15 metros prometido pelo CBTC, nova tecnologia que está sendo implantada no Metrô e também na Linha 10. Em outras palavras, as melhorias vão tornar possível inserir mais trens e diminuir os atuais seis minutos de intervalo no pico. A nova funcionalidade, no entanto, está atrasada sendo que o contrato com a fornecedora foi estabelecido antes de 2010.

Mas mesmo com novo sistema de sinalização e novo trem, sem energia suficiente nada disso é possível. Recentemente, por exemplo, um problema em uma subestação na Linha 7 deixou a ferrovia paralisada por horas e quem sentiu na pele foi o passageiro.

Para tentar minimizar esses problemas, a empresa está instalando a cabine seccionadora de energia de Capuava, implantada com a tecnologia de Eletrocentro, que terá o objetivo de aumentar a confiabilidade do sistema elétrico.

Renato Lobo | Via Trolebus

A CPTM tem outros desafios pela frente, como a melhora de estações e da infraestrutura, como o sistema de energia e de sinalização. Estes trabalhos não são percebidos pelo passageiro, mas vitais para a melhora dos serviços. O que usuário enxerga de fato são as estações e os trens, estes que foram renovados nos últimos anos. A Linha 10 conta dois dois modelos mais novas da companhia, das séries 8500 e 9500, sendo que cada um dos trens têm em média capacidade de 200 pessoas a mais do que os trens 2100.

Ainda com os desafios, trabalhadores da empresa se orgulham em terem implantado melhorias que fizeram a viagem de ponta a ponta reduzir em 13 minutos. Para o feito foi unindo os esforços de duas diretorias, de Operação e Manutenção e de Engenharia e Obras. O grupo se reúne virtualmente e presencialmente, inclusive com visitas em campos que ocorrem todas as semanas. Afinal é uma contradição um profissional que atua na locomoção de pessoas, e que fica trancado no escritório e não sai em campo.

A ferrovia inaugurada no século XIX ainda teve algumas correções geométricas, o que possibilitou aumento de velocidade e ajustes na entrada e saída da estação Santo André. Foram também feitos mudanças nos AMVs (Aparelho de Mudança de Via) que permitiram que a velocidade em alguns locais aumentasse de 30 para 50 quilômetros por hora.

Em São Caetano foi extinto o uso da via auxiliar no sentido Jundiaí o que reduziu o tempo de viagem. Um pequeno vagão se transformou em um passadiço, reformado e adaptado para virar uma passagem entre a entrada da estação e a plataforma 3, e isso aumentou a fluidez e gerou um ganho de mais de 2 minutos na linha.

Sobre estações, a linha 10 está recebendo reformas em quatro delas. São Caetano terá a remodelação mais significativa, inclusive com uma nova passarela que vai permitir a transposição dos passageiros entre as plataformas. Já em Utinga, Prefeito Saladino e Capuava não há grandes mudanças, além do novo piso, alteamento das plataformas, coberturas e o mais importante que é a acessibilidade plena.

Renato Lobo | Via Trolebus

Talvez a melhor mudança seja a introdução do serviço 710, que faz a ligação da Linha 10 com a Linha 7-Rubi, com trens diretos de Rio Grande da Serra até Jundiaí, sem que o passageiro tenha que trocar de trem. Mas o serviço pode estar com os dias contados, uma vez que a Linha 10 poderão não ser inclusa na concessão da Linha 7.

Todas as mudanças, não considerando as reformas, foram feitas pelos próprios funcionários da CPTM sem que a empresa tivesse que buscar fora as soluções que muitas vezes, estão dentro da própria equipe.

Sobre o autor do post

Renato Lobo

Paulistano, profissional de Marketing Digital, técnico em Transportes, Ciclista, apaixonado pelo tema da Mobilidade, é o criador do Portal Via Trolebus.

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