Mobilidade Urbana

Dizer que aumento em autuações representa indústria de multas é equivocado

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Nesta sexta-feira (16) foi divulgado amplamente pela grande mídia que o número de multas subiu na capital. Só a invasão as faixas exclusivas, o aumento foi de 69,5%.

Junto com a divulgação pipocam os comentários nas redes sociais sobre a tal industria de multa. O jornalista Adamo Bazani da rádio CBN e do Blog Ponto de Ônibus divulgou um artigo interessante sobre o fato, contrapondo a suposta industria:

“Entre as infrações de trânsito que mais tiveram aumento no número de multas em todo o ano passado na Capital Paulista foi a invasão a faixas e a corredores de ônibus.

De acordo com dados da CET – Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo, o crescimento foi de 69,5% em 2014 na comparação com o ano anterior. Em 2013, foram anotadas 713 mil 548 multas contra 1 milhão 209 mil 571 de 2014.

Além do crescimento do número de faixas para o transporte público que continuaram a ser implantadas no ano passado, chegando hoje a 462 quilômetros, contribuem para este número a intensificação na fiscalização e o desrespeito do motorista que ainda continua não obedecendo à sinalização de trânsito e não dando a prioridade obrigatória aos ônibus nestes espaços que, ocupando uma área menor, conseguem atender mais pessoas de uma só vez.

Não se pode dizer que as faixas de ônibus se transformaram em indústrias das multas. Isso é desculpa de motorista desrespeitoso! Muitos destes espaços podem ter erros de projeto que precisam ser modificados, mas não precisa fazer nenhum grande estudo para saber que ônibus com pistas livres desenvolvem melhor velocidade o que beneficia a uma maioria que se desloca de maneira coletiva.

Se existe uma “indústria da multa” ela é alimentada pelo próprio desrespeito do motorista. É o que prova o levantamento da CET sobre 2014: a infração que teve maior registros de multas em números absolutos foi o excesso de velocidade que gerou 3 milhões 137 mil e 72 autuações, 0,4% a menos que em 2013.

Não se pode negar que o trânsito em São Paulo é de difícil convivência, que há radares que enganam o motorista e que a cidade poderia ter melhor estrutura viária. Mas para não ser multado, basta obedecer às regras básicas de trânsito.

Não é porque numa via não há uma placa de sinalização de velocidade que o motorista está autorizado a voar baixo.
As cidades que investem em transporte público de qualidade integrando ônibus e sistema metroferroviário conseguem ter bons resultados na redução do trânsito e da poluição, não havendo multas sistemáticas.

Com mais gente utilizando transporte público, o trânsito é mais organizado. Não há muito o que multar.
O que não pode ser defendido é o motorista que desrespeita o espaço destinado à maioria dos cidadãos, como faixas de ônibus.

As multas por desrespeito aos ciclistas também cresceram em 2014 na comparação com 2013: 66,8%, de 14 mil 973 para 24 mil 981 em 2014.

As infrações são relacionadas a diversas posturas dos motoristas, como estacionamento em ciclovias, não redução de velocidade próximo a um ciclista ou invasão de ciclovias.

A prefeitura promete intensificar a fiscalização quanto ao desrespeito aos ciclistas, inclusive com uso de radares específicos que precisam ser homologados. Hoje as bicicletas nas cidades mais desenvolvidas do mundo já fazem parte das malhas de transportes e são sistematicamente integradas aos ônibus, trens e metrô.

Este texto não se trata em incentivar a tola rivalidade entre transporte público e bicicletas contra os carros. Mas o transporte individual, para o bem das pessoas, não pode ser a preferência nas cidades. É uma forma de deslocamento pouco inteligente, que ocupa mais espaço e polui mais proporcionalmente que qualquer ônibus, mesmo os mais antigos.

E é necessário criar uma cultura para barrar o individualismo do motorista em cidades como São Paulo. Ele deve respeitar o espaço do transporte público. Além de campanhas de conscientização e informação, é necessário pesar no bolso para o respeito virar hábito, como ocorreu com o cinto de segurança (pelo menos nos bancos da frente).
Afinal, precisa ser algum gênio ou ter um Q.I. acima da média para entender que a placa que diz “Só Ônibus” significa que somente ônibus pode passar por aquele local?”

Sobre o autor do post

Renato Lobo

Paulistano, profissional de Marketing Digital, técnico em Transportes, Ciclista, apaixonado pelo tema da Mobilidade, é o criador do Portal Via Trolebus.

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