CPTM

Princípio de incêndio na CPTM expõe fragilidade extrema

Linha 9 - Esmeralda CPTMNo último sábado, a CPTM prova não ser capaz de se manter operando sem seu CCO, mesmo com ferroviários que viram sistemas de sinalização evoluir

OPINIÃO – A pane da CPTM, que, como disse o governador Geraldo Alckmin, “foi um aquecimento de bateria que ocorreu no centro de controle e que vai ser investigado”, foi responsável pela paralisação de um sistema de 260 quilômetros de extensão, com 89 estações e atendendo 22 dos 39 munícipios que compõem a região metropolitana da capital. Não foi o simples aquecimento ou, como divulgou (sem acentos), o Twitter da CPTM,“Devido a problema tecnico no sistema de nobreak da iluminacao do predio do CCO, a circulacao dos trens esta interrompida”, a falha foi mais tensa que o imaginado.

Uma sala com baterias compostas por chumbo ácido sofreu curto-circuito. A fumaça do chumbo, que é extremamente tóxica, podendo causar câncer, chegou a sala principal do Centro de Controle Operacional Unificado (“pero, no mucho”, explicações abaixo*) da companhia que, por procedimento de segurança, foi totalmente evacuada para evitar contaminação dos funcionários. Por consequência, a dissipação foi feita pelos sistemas de ar condicionado do prédio, que tem liberação por exaustores próximos as plataformas 8 (utilizada para recolhes, em cima dela, há a área cultural do Brás e se interliga com o Metrô) e 7 (terminal para os trens da linha 12 – Safira, de Brás a Calmon Viana).

Com o sistema sem pessoas pra operar, a última medida tomada antes a total evacuação foi para que todos os maquinistas parassem seus trens nas estações e pedissem o desembarque até o retorno da operação.

“Sem o sistema CCO ligado não é possível fazer a circulação dos trens”, disse José Augusto Bissacot, diretor de engenharia da CPTM após a pane que você acompanhou conosco via Twitter durante toda a tarde de sábado. Por mais incrível que pareça, essa desculpa deve ser pouco aceita. Não se pode manter intervalos baixos, uma vez que os usuários já estão acostumados a sábados de lentidão durante as obras que modernizam -há quase 7 anos- as vias, energia e sinalização da CPTM, mas, mantém-se a circulação por meios bem conhecidos de muitos dos ferroviários oriundos da Fepasa, Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima e CBTU: sistema de rádio, liberação por autorização de circulação escrita e, se o rádio não estiver ao alcance, telefone. Segundo um ferroviário que não quis se identificar, “a prioridade da manutenção e extensões feitas em caráter emergencial foram para priorizar o funcionamento dos telefones e rádios do CCO”.

Usuário presente no ocorrido, Alesson Nascimento, 22, esteve em Mogi das Cruzes durante toda a falha acompanhando de perto quando poderia embarcar de volta pra Poá, cidade onde reside seus familiares. “Quando foi as 13h, os seguranças informaram que todos os usuários deveriam se retirar da estação. Não houve anúncios informando o motivo”, marca já comum nas linhas 11 – Coral e 12 – da CPTM: muitas vezes, com a informação em mãos para explicar lentidões, os ferroviários esquecem de utilizar o sistema sonoro das estações para repassar os passageiros que a operação sofrerá algum impacto. “Houve um principio de confusão entre os funcionários e usuários devido a falta de informação”. A única informação que os usuários de Mogi tiveram sobre os problemas, segundo Nascimento, foram por repasse de redes sociais e canais de comunicação. “Muitos usuários não entendiam o que havia ocorrido, os funcionários não passaram nenhuma informação sobre o caso, apenas alguns usuários que estavam com acesso à internet/rádio e que informaram o problema no CCO do Brás”.

Parece absurdo perguntar isso, mas, será mesmo que só do CCO é possível manter, com regularidade de horários, trens circulando? Só no CCO há telefones? A chefia da estação do Brás, que é uma das maiores do sistema e tem funcionários de várias áreas que precisam se comunicar, as terceirizadas de limpeza e vigilância não possuem telefonia? Será que esses ferroviários ainda lembram como usar um “rádio analógico”, já que o sistema da CPTM é todo digital e só manuseável pelo equipamento presente naquele centro? Será que esses métodos, funcionais e “à prova de falhas”, como diz o próprioSão Paulo TREM Jeito”, coordenados pelo Sindicato dos Ferroviários de Passageiros – SINFERP, responsável pelos ferroviários das linhas 8 – Diamante e 9 – Esmeralda da CPTM já se tornaram desconhecidos e totalmente obsoletos para um plano de contingência?

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A pane ocorrida no último sábado (6) nem mesmo nas antecessoras da CPTM conseguiram cometer. Mesmo que andassem, na época, com uma hora de intervalo por causa de uma falha no CCO, haveria operação de trens. *A linha 10 – Turquesa, uma das linhas que tem pouco recebido a tal modernização ou, ao menos, o que é modernizado nela gera poucos reflexos a seus usuários, manteve sua operação de Rio Grande da Serra até o Tamanduateí, já que, como podem pensar os atuais operadores do CCO “Unificado” do Brás, “o velho e ultrapassado sistema de sinalização gerenciado por painéis com chaves e botoeiras instalado na década de 1970” se mantém operando como um sistema redundante, já que este não foi completamente transferido para o Brás.

Conforme o relato, a linha Turquesa só não foi ao Brás porque a estação foi fechada e, como possui integração com a linha 2 – Verde, foi mais viável manter somente essa interligação.

O difícil hoje é crer numa CPTM, como dizem alguns de seus funcionários mais entusiastas em momento de crença de mudança, “que ela será a melhor empresa de transportes sobre trilhos do Brasil”. Esse, e assim como vários outros que tentam desempenhar sua função da melhor maneira possível sem apoio de seu próprio setor ou de grandes setores, ainda alimentam essa esperança como muitos usuários. Mas, se é a segunda -ou terceira, ou quarta- falha grave, aliás gravíssima, que expôs uma CPTM frágil e destreinada para manter a circulação em seu centro nervoso e o presidente e, principalmente, pela conivência e ser doutor em transportes públicos, Jurandir Fernandes não serem demitidos de seus cargos, será vergonhoso ver que quem usa a CPTM, EMTU Metrô e Via Quatro (o conselho permanente é gerido por esta pasta e não pelo Metrô, como muitos pensam) votou no PSDB em 2014.

Por Italo Silva | Vida Sobre Trilhos | Usuário da CPTM | Cobrasmão

Sobre o autor do post

Renato Lobo

Paulistano, profissional de Marketing Digital, técnico em Transportes, Ciclista, apaixonado pelo tema da Mobilidade, é o criador do Portal Via Trolebus.

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