Continua a série de reportagens da UOL sobre o Metrô paulista. A última mostra o comportamento inadequado de alguns usuários.
Segundo a reportagem, parte dos problemas enfrentados diariamente pelos repórteres e, principalmente, pelos milhões de usuários do metrô de São Paulo poderia ser evitada, ou pelo menos minimizada, se houvesse mais cortesia entre alguns passageiros.
Escadas (rolantes ou não), áreas próximas das portas da composição (dentro dela ou na plataforma de embarque) e assentos vagos são pontos críticos que desafiam o autocontrole e os princípios de boa conduta dos passageiros em quase todas as estações.
Escadas e acessos
Nas escadas, a pressa de uns entra em choque com o sossego de outros. Mas, no geral, poucos respeitam as divisões para melhorar o fluxo de pessoas localizado, por exemplo, na ligação das linhas 2 e 4. Sobe-se pelo lado que é para descer e vice-versa.
Na escada rolante, o quadro é um pouco melhor. Embora não exista o contrafluxo, há os passageiros que “estacionam” no lado esquerdo e impedem aqueles que preferem subir os degraus para ganhar tempo no percurso. Não é à toa que o tumulto nessas áreas é sempre mais evidente.
Nas áreas próximas das portas o que se percebe é um senso distorcido de prioridade. Todos acreditam ter prioridade sobre os demais, seja para entrar ou para sair do trem. Até a chegada do trem, não há muito que fazer. Porém, com a abertura das portas, presencia-se um “salve-se quem puder”. As portas são largas, mas não elásticas, e o empurra-empurra e os pisões são comuns e inevitáveis.
O vale-tudo das portas
Ao tentar seguir as recomendações do Metrô e dar prioridade aos usuários que desembarcavam, uma das repórteres chegou a ser empurrada por um daqueles aflitos, atingiu uma pessoa e dificultou a saída de muitas outras. Diante do pedido de desculpas pelo choque, alguns passageiros olharam para ela com ar de estranheza. O curioso é que o episódio ocorreu às 14h30, bem fora do horário de pico da estação Sé.
Se para entrar no trem não é preciso fazer um mínimo de esforço, para sair enfrenta-se uma “corrida com obstáculos”. De pouco ou nada adiantam os avisos sonoros no interior do trem para que não se pare diante das portas: se não é a lotação que deixa a recomendação insólita, quase irônica, é a própria falta de bom senso do usuário que impede que o conselho vire prática.
Mochilas: pomo da discórdia
O conselho para se deixarem “bolsas e mochilas na parte da frente” do corpo é outro que ou é ignorado, ou passa batido por aqueles que não se lembram, inclusive, que a medida ajuda a evitar transtornos maiores como furtos. Em um dos embarques, feito por volta das 8h30 em uma composição lotadíssima da linha verde, outra repórter chegou a segurar a mochila nas mãos –caso o contrário, simplesmente não conseguiria entrar.
Após um safanão mal disfarçado de uma mulher na faixa dos 40 anos, a jornalista indagou o motivo da agressão. “Você está com mochila!”, respondeu a usuária, ‘denunciando’ que o cotovelo dela, na verdade, é que teria sido deslocado, involuntariamente, para um golpe dado… pela mochila. O episódio deixou o espreme-espreme ainda mais tenso, até porque uma segunda usuária apontou o dedo para a dona do cotovelo nervoso e disparou um “eu vi você empurrando. Você também me empurrou”. E olha que esta estava sem mochila…
Assentos “especiais”…no nome, pelo menos
|A reportagem lembra ainda da busca por assentos vagos significa quase uma conquista no status social do transporte coletivo. Das 45 viagens realizadas na semana avaliada, os repórteres do UOL Notícias conseguiram algum banco vago em apenas nove delas, de modo que só três vezes nos horários considerados de pico.
Não bastasse a falta crônica de espaço, comum ao sistema, é frequente notar também usuários jovens e saudáveis ocuparem assentos reservados a gestantes, idosos ou portadores de deficiência. Dali, só levantarão segundos antes de chegar à sua estação de destino, ainda que haja mãos enrugadas segurando uma barra próxima.
A equipe presenciou a cena por diversas vezes nos cinco dias –e bem mais repetidamente que a cena de quem cede a vaga– e aprendeu o truque para quem se faz de desentendido, uma vez acomodado na cadeira azul: basta fechar os olhos ou se mostrar absorto na leitura ou na música que extravasa –outra não-gentileza abundante, essa “socialização” de som –os fones de ouvido. Simples assim.
No dia do safanão pela mochila, por exemplo, a revolta da usuária poderia ser facilmente canalizada para o absurdo da situação do outro lado dela: duas gestantes em pé se apoiavam nas grades do ar condicionado, no teto do trem. Diante da sugestão da reportagem, para que se sentassem nos assentos azuis, uma delas respondeu, em um muxoxo: “A gente não consegue chegar até lá, moça, tá muito lotado”.
Por Renato Lobo, com as informações de UOL