Ônibus a gás entre SP e Campinas entra em teste

Renato Lobo

Biometano surge como alternativa viável na descarbonização do transporte rodoviário

Nos planos de descarbonização do transporte, a eletrificação da frota de ônibus tem concentrado a atenção de operadores e autoridades. No entanto, o mercado já aponta alternativas viáveis a médio prazo, diante dos desafios de infraestrutura enfrentados atualmente.

Nem sempre há estrutura suficiente para recarregar dezenas de ônibus elétricos simultaneamente. Um exemplo é a cidade de São Paulo, onde a previsão era ter 2.600 ônibus elétricos até 2024. Contudo, a meta precisou ser reduzida por falta de carregadores disponíveis.

Biometano em destaque: novo modelo da Scania entra em testes

Uma das soluções que ganha espaço é o biometano, inclusive em rotas intermunicipais. Exemplo disso é o ônibus movido a gás apresentado nesta quinta-feira pela Scania, com carroceria Marcopolo e chassi K340 4×2. O modelo será testado pela Viação Santa Cruz por 90 dias na rota entre São Paulo e Campinas, considerada uma das mais movimentadas do país.

“Tanto no segmento urbano quanto no rodoviário, não teremos uma única solução para a descarbonização. No caso do urbano, já temos uma frota significativa no Brasil e o gás aparece como complemento importante, principalmente com as iniciativas em biometano. Ele tem operação semelhante ao diesel, e o abastecimento é mais simples do que no caso do elétrico”, explica Gustavo Cecchetto de Camargo, gerente de vendas da Scania, em entrevista ao Via Trolebus.

O veículo tem autonomia de até 450 km, suficiente para cobrir os pouco mais de 100 km da rota SP–Campinas. Hoje, já existe uma rede de abastecimento em expansão, com cerca de 70 garagens com infraestrutura apropriada, além de mais de 20 postos de abastecimento.

Novas soluções para aumentar autonomia

A Scania também planeja aumentar a autonomia dos veículos a biometano para até 600 km. O principal desafio está na ampliação dos cilindros de gás, que atualmente ocupam parte dos bagageiros – um problema em viagens de longa distância, onde há maior demanda por espaço para bagagens.

Como alternativa, a empresa estuda o uso de cilindros do tipo 4, que otimizam o espaço, e também a instalação dos equipamentos no teto do ônibus, liberando os bagageiros. Essa última solução está atualmente em processo de homologação.

Custo e impacto ambiental

Os veículos a biometano ainda custam entre 20% e 30% mais do que os ônibus a diesel. No entanto, segundo Camargo, o custo operacional tende a ser mais vantajoso no longo prazo:

“Nossa expectativa é que, com o ganho de escala e o aumento da produção, essa diferença de preço vá diminuindo com o tempo.”

Além disso, segundo a fabricante, o modelo pode emitir até 90% menos poluentes do que um ônibus movido a diesel. Durante a apresentação, representantes da operadora afirmaram que, caso o modelo seja bem aceito, há a possibilidade de substituir toda a frota atual de 10 veículos da linha por ônibus a biometano — e futuramente, até mesmo a frota completa da empresa, com mais de 90 veículos.

Paulistano, profissional de Marketing Digital, técnico em Transportes, Ciclista, apaixonado pelo tema da Mobilidade, é o criador do Portal Via Trolebus.
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