Mobilidade Urbana

Crise Covid-19: da imobilidade a uma mobilidade mais sustentável

A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) representa um grande desafio para o futuro da Mobilidade Urbana no mundo todo. Os hábitos adquiridos nessa quarentena poderão perdurar por muito tempo, inclusive o modo como escolhemos nos deslocar. Por isso, no momento atual, é crucial a definição do que queremos para as nossas cidades. Incentivar comportamentos positivos é essencial para que essa nova etapa da vida nas metrópoles seja melhor.

O uso do transporte coletivo será bastante afetado. Muitas viagens serão evitadas, diante do uso das tecnologias de comunicação, e algumas pessoas darão preferência ao transporte individual. Além da implementação de ações emergenciais de higienização e de distanciamento social, as agências de transporte precisam estar atentas às políticas a longo prazo, necessárias para a construção de formas de deslocamento mais inteligentes, integradas, sustentáveis e seguras.

Com medo da contaminação, muitas pessoas deverão recorrer ao uso do automóvel privado. No entanto, um cenário com o uso massivo do carro significa grandes engarrafamentos, poluição e acidentes, com índices talvez até piores do que antes. Ao mesmo tempo, estudos científicos feitos em Boston, Siena e Aarhus demonstram que altos níveis de poluição do ar podem aumentar o risco de morte por Covid-19 – e cerca de 70% da poluição nas cidades deriva dos automóveis.

Enquanto o carro ainda é um problema para as metrópoles, a bicicleta e a caminhada foram destacadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como opções sustentáveis e com baixos níveis de contato social. Portanto, diversas cidades ao redor do mundo estão aproveitando esse momento para impulsionar uma mudança de hábito positiva na mobilidade urbana.

Veja alguns exemplos de políticas e incentivos:

Infraestrutura urbana – prioridade para ciclistas e pedestres

A infraestrutura urbana e segurança são grandes orientadores das escolhas na mobilidade. Com as ruas vazias, cidades como Berlim, Nova Iorque, Budapeste, Bogotá e Cidade do México, entre outras, têm ampliado espaços de calçadas e criado ciclovias temporárias, para garantir condições adequadas para o distanciamento social em deslocamentos seguros e sustentáveis. Na Escócia, o governo anunciou que vai disponibilizar 10 milhões de libras para criar ciclovias temporárias e alargamento de calçadas. Milão – uma das cidades que mais sofreu com o surto da pandemia – já começou a transformar 35 quilômetros de suas ruas em áreas mais amigáveis aos pedestres e ciclistas, com ciclovias e velocidade reduzida para carros.

Mobilidade compartilhada

A mobilidade compartilhada é uma grande aliada no incentivo a atitudes mais sustentáveis, devido à sua flexibilidade e facilidade de acesso e pagamento. Em Nova Iorque, o sistema de bicicletas compartilhadas da cidade (Citybike) viu um aumento de 67% do número de viagens no mês de março. O número de passageiros no transporte de massa da cidade caiu 77%, enquanto o compartilhamento de bicicletas caiu apenas 4%, durante todo o período da quarentena. Em muitas cidades da América do Norte, como Vancouver e Washington, operadores de compartilhamento de bicicletas ofereceram a todos os trabalhadores de serviço essencial “passe grátis” para ida e volta do serviço.

Políticas de Incentivos

O governo francês está oferecendo ajuda financeira para aqueles que escolhem a bicicleta como modo de transporte, com o objetivo de manter os níveis de poluição baixos mesmo no período pós-quarentena. Todos os cidadãos poderão requisitar até 50 euros em reparos para bicicleta em mecânicos registrados. Além disso, 20 milhões de euros serão também destinados às aulas de ciclismo e implementação de bicicletários e paraciclos temporários. No Brasil, mesmo sem nenhum incentivo, as vendas de bicicleta aumentaram em 50% nos meses de quarentena. Esse dado demonstra o potencial que políticas de incentivo teriam se fossem aplicadas, como a redução do imposto sobre a bicicleta, por exemplo.

Informações acessíveis sobre o uso do transporte coletivo

No caso do transporte coletivo, informações são essenciais para que as pessoas continuem a usar o transporte coletivo de modo seguro. Saber a hora exata que o ônibus vai passar ou a lotação dos veículos auxilia na tomada de decisão dos passageiros, que poderão evitar horários, estações ou veículos com maiores aglomerações. Um exemplo é o aplicativo Transit, que em parceria com governos municipais e agências de transporte dos EUA e Canadá já disponibiliza lotação de ônibus em tempo real. Além disso, as plataformas digitais são um grande aliado para as políticas de conscientização, pois tem a capacidade de se comunicar de forma próxima e direta com o passageiro.

As cidades brasileiras não deveriam deixar essa oportunidade passar. Este momento pode ser um catalizador para um futuro mais limpo, eficiente, sustentável e seguro. Cidades que aproveitarem esse momento para evoluir vão sair dessa crise melhor do que estavam. A questão agora, portanto, não é quando vamos voltar ao normal, e sim por que não avançar?

* Luisa Feyo Guimarães Peixoto é Especialista em Relações Públicas da Quicko, startup de Mobilidade Urbana

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Editor convidado

Via Trolebus