A maior cidade da América Latina já teve a operação de bondes no transporte coletivo, e há 50 anos, os últimos veículos prestavam serviços na cidade de São Paulo.
Em 27 de março de 1968 o então prefeito Faria Lima dirigia-se junto a uma grande comitiva de políticos, assessores e convidados para um evento de despedida de última viagem de bondes da capital paulista.
O sistema era considerado lento, problemático e deficitário, e há quem dizia que os bondes não deixariam saudades na grande maioria da população. O bonde era visto como o vilão do progresso.
Chegada a hora, a festividade agitou a Vila Mariana onde fica o Instituto Biológico, atualmente perto do Parque do Ibirapuera. Era o ponto inicial da então última linha sobrevivente de bondes da cidade, a ˝Instituto Biológico – Santo Amaro˝.
Naquele dia um cortejo composto de 12 bondes partiria dali até seu ponto final, com eventos previstos nas paradas do Brooklin e Piraquara, com chegada ao fim do trajeto prevista para às 20:00hs.
Cia. de Carris de Ferro de Santo Amaro
De acordo com o site Estações Ferroviárias, um trem de passageiros a vapor que correu na antiga linha da Cia. de Carris de Ferro de Santo Amaro entre 1886 e 1914. Foi substituído por bondes elétricos nas duas linhas que se sucederam à retificação de 1914 feita pela Light, que havia comprado a empresa em 1900. Em 1947, a CMTC, da Prefeitura de São Paulo, ficou com as linhas da Light.
O bonde saia da Praça João Mendes, Liberdade, Vergueiro, Ana Rosa, Rodrigues Alves, Avenida Ibirapuera (uma reta de 7 km, pelo canteiro central, sem interferir com o trânsito) ultrapassava o Largo 13 de Maio até a região do Socorro. Depois, foi cortado o trecho João Mendes-Instituto Biológico, desfigurando totalmente a linha.
Segundo um artigo do arquiteto e urbanista Ayrton Camargo, ao antigo Blog Ponto de Ônibus, hoje o site Diário do Transporte, estas bondes operavam com velocidades entre as paradas superiores a 80 km/h. Nela operavam 25 veículos que transportavam diariamente 40 mil usuários, que, em pouco mais de uma hora, saiam de Santo Amaro e chegavam ao centro da cidade.
Voltando ao cortejo
No veículo que levava as autoridades, de um lado Francisco Lourenço Ferreira, o mais antigo motorneiro de São Paulo em atividade, do outro o mais jovem motorista de trólebus da cidade. O sistema trólebus era tido como o grande substituto da rede sobre trilhos que estava sendo suprimida. Uma viagem repleta de simbolismos para justificar o fim do serviço: sai o velho, entra o novo.
“Adeus, Nasce a Nova São Paulo˝
A frase acima estava presente em cada um dos doze bondes que fizeram o trajeto de encerramento, como que se fosse um mantra do progresso despedindo-se do passado e do que entendiam como atraso.
Mas a cidade fez um bom negocio em retirar este meio de transporte?
O sistema tinha problemas crônicos e as paradas constantes deviam-se muito mais a falta de investimento do que qualquer outro motivo. Havia relatos de descarrilamentos frequentes, a frota era velha, em muitos casos de segunda mão de outros países. Existe até relatos que nos últimos tempos, os passageiros tinham que desembarcar no meio da rua, por não existir uma infraestrutura adequada de paradas.
Mas se os administradores estivesse investido no bonde, será que poderíamos ter uma rede até o dias atuais? A cidade já teve uma rede de trilhos de bondes, que chegou a 240 km na década de 1950.
O texto do site São Paulo Antiga, afirma que o prefeito Faria Lima sucumbiu ao lobby do diesel e dos fabricantes de carroceria.
Então completamos 50 anos em que São Paulo jogou fora o que poderia ser hoje a possibilidade da maior capital brasileira ter uma rede de VLT.
Baseado no texto: 1968 – O ano em que o bonde parou
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