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Misterioso caso da parada fantasma

A cidade de São Paulo contempla em seus módicos 1 521,11 km² algo em torno de 14 mil veículos e por volta de 1.300 linhas (dados dez/18) que servem ao município. Não tem dados disponíveis -pelo menos não foram localizados- do número exato de paradas de ônibus na cidade.

Seja em corredor ou aquele simples poste de madeira enterrado na calçada, mas estima-se, segundo reportagens dos tempos de concessão do mobiliário urbano, que São Paulo conte com mais de 15 mil paradas. Existe uma normatização em São Paulo que cada parada de ônibus, tem que atender um raio de 500m no seu entorno.

Mas raras exceções, como em áreas verdadeiramente sem ocupações em seu entorno (Sim, isso é possível em SP), as paradas se distanciam mais e são instaladas de acordo com os principais acessos aos bairros lindeiros ao itinerário do ônibus, ou a instalação próxima à faixas de pedestres que deem acesso à outros pontos de interesse na região.

Simples? Não. Claro que não. No próprio site da SPTrans, informa que:

 

Mas, foi flagrado na madrugada do dia 24/01 para 25/01/19 no “Túnel Papa João Paulo II”, o túnel do Anhangabaú, a instalação de uma parada um tanto inusitada: A “parada fantasma”.

Para contextualizar, no sentido zona norte o túnel conta com uma escada que liga o Parque do Anhangabaú até o túnel, onde tem uma parada instalada para os ônibus que seguem pela avenida. A parada se justifica, mesmo sendo dentro de uma passagem subterrânea mal iluminada e uma escada que não é exemplo de limpeza (pode ser vista aqui), tem acesso direto à via e também, está em um ponto médio de aproximadamente 2km entre a 23 de Maio e Senador Queirós, que até antes de sua instalação não contava com nenhuma possibilidade de embarque ou desembarque entre os dois pontos.

Já no sentido zona sul, local da “parada fantasma”, o túnel não possui nenhum acesso direto à superfície. Nem por meio de escadas, nem por dentro do túnel, cujo o local da passarela de emergência está “ocupada” por uma canaleta que drena águas pluviais. Nas duas extremidades, o acesso para pedestres fica praticamente impossível, por possuir pelo menos duas faixas de rolamento e dois acessos, um de entrada e outro de saída da avenida, que impediriam uma travessia segura e sem semáforos para os pedestres chegarem ao túnel.

Mesmo com todas essas dificuldades, a tal parada em formato de totem (aqueles marrons padrão), foi instalada na baia de emergência no túnel, a exemplo do que ocorre no sentido zona norte. Quem iria acessar ali? Para que ir até o túnel se não tem como chegar nele ou se a parada mais próxima (Praça do Correio) atende o último gerador de demanda antes da bifurcação da 23 com a 9 de Julho?

Para isso, encaminhamos à SPTrans um questionamento, perguntando do motivo da instalação da parada, tendo em vista que não possui sentido algum a instalação da parada naquele local.
A resposta foi em nota:

A SPTrans informa que solicitou a remoção imediata do ponto instalado indevidamente pela concessionária no Túnel Papa João Paulo II, sentido zona sul. O serviço já foi executado.

Parada instalada no Túnel Papa João Paulo II, sentido zona sul. Sem acesso aos pedestres. Foto de 25/01/2019

 

Local da “antiga parada” no Tùnel Papa João Paulo II, sentido zona sul. Totem foi retirado. Foto de 03/02/2019.

 

 

A efeito de comparação, a Faculdade de Tencologia do Tatuapé (Fatec) por meio de seus alunos, solicitava a instalação de uma parada de ônibus próximo ao seu acesso na Radial Leste sentido bairro (Conde de Frontin), por conta da segurança das demais paradas. A saída do período noturno tornava-se um problema de segurança pública pela localização dos pontos mais próximos da instituição, sendo uma embaixo de um viaduto a 300m da instituição -o que faz o local ser muito escuro e distante- e a outra, a mais de 500m, instalada apenas no Metrô Carrão. Inúmeros pedidos foram protocolados na Secretaria de Mobilidade e Transportes e também na SPTrans  desde meados de 2015 até que o pedido fora finalmente atendido, somente em 2018. Atualmente, com restaurantes fast-food e a própria faculdade, além de ruas importantes do bairro do Tatuapé, a parada é uma das mais movimentadas do trecho, inclusive, sendo visivelmente preterida pelos usuários do transporte público em detrimento da parada mais antiga, dada a sua já relatada localização.

No final das contas, a retirada da parada foi benéfica, pois estava fadada ao ostracismo até se acabar no vandalismo (recorrente no local). Mas surge o questionamento se a SPTrans ainda mantém o domínio sobre a instalação de novas paradas na cidade e o real motivo que fez a concessionária (que faz a instalação e manutenção desde 2012 em SP de abrigos, totens e relógios) ter instalado no túnel o tal totem, sendo que no caso citado da Fatec Tatuapé, a instalação demorou 3 anos para ser ter a “análise completa” e sua instalação, autorizada.

Sobre o autor do post

Rodrigo Lopes

Paulistano, formado em Logística e graduando de Tecnologia em Transporte Terrestre, sempre gostou de transportes e tudo o que envolve a mobilidade, transportes e planejamento urbano. Participa de projetos relacionados a preservação ferroviária, transporte não poluente e gestão pública. Criador do Boletim do Transporte em 2011, desde Abril de 2018, colabora com o Via Trólebus.

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