CPTM

Direto ao ponto: Passageiros transportados por táxi em caso de falhas?

O Direto ao Ponto é uma coluna de artigos, que discute fatos pertinentes ao Transporte, expondo dados para promover o debate entre o leitor e as ideias.

Acompanhamos na última semana em matéria divulgada no Via Trólebus (leia aqui), diante dos problemas da Linha 12 envolvendo o Consórcio responsável pela implantação da sinalização e da interface entre ela e o sistema da CPTM, que ocasionou os graves problemas operacionais da Linha 12-Safira (Calmon Viana-Brás), precisando acionar o sistema PAESE (Plano Assistencial às Empresas em Situação Emergencial) entre as estações Tatuapé e Comendador Ermelino,  o Governador Márcio França (PSB), em entrevista à Folha de São Paulo, veio com a seguinte informação:
“A CPTM deverá pagar uma corrida de Taxi aos usuários do transporte caso haja paralização dos trens”.

Levando em consideração a seguinte sugestão/ afirmação, que para entrar em prática necessita passar na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, o atual Governador que assumiu o cargo após a renúncia de Geraldo Alckmin (PSDB), desconsiderou visivelmente, o impacto negativo que isso teria aos cofres públicos, que já sofrem com déficit, inclusive atrasando obras importantes de infraestrutura e outras áreas no Estado.

Para estabelecer um debate sobre o assunto, consideramos o trecho entre Tatuapé e Comendador Ermelino, que foi o trecho paralisado da Linha 12 pelo problema com a sinalização nos últimos dias.

Mapa_Tatuapé-Ermelino
Mapa de deslocamento entre a Estação Tatuapé e Estação Comendador Ermelino. (Lopes, 2018).

Em um trem (Série 7000), cabem em média 1.004 mil usuários por composição. Considerando um intervalo de 6 minutos, pensando somente no sentido Calmon Viana – Brás, praticado no horário de maior movimento e os trens com capacidade máxima de ocupação, tem por hora, 10 partidas, totalizando 10.040 mil usuários por sentido.

Falando agora sobre o trecho entre o Tatuapé e Comendador Ermelino, são aproximadamente 22 km entre as estações, de carro e utilizando aplicativos que indicam a melhor rota para fugir de trânsito.

Para parametrizar o valor de uma corrida de táxi e também, de aplicativo, consideramos os app “SPTaxi” e Uber, para estimar o preço e percurso entre as duas estações:

Perspectiva_Tracado_Custos
Percurso e percurso estimado pelos aplicativos SPTaxi e Uber entre as Estações Tatuapé e Comendador Ermelino, Linha 12 da CPTM. (Lopes, 2018).

Usando como parâmetro, uma corrida com 4 passageiros entre Tatuapé e Ermelino, seriam necessários 2.510 veículos para atender a demanda. São Paulo atualmente conta com aproximadamente 38 mil veículos cadastrados no sistema da SPTrans. Já a Uber, desconsiderando os outros aplicativos, superam os 50 mil veículos cadastrados.

Do ponto de vista operacional, é possível que os veículos atendam como “PAESE” entre Tatuapé e Ermelino.

Agora, vamos partir para o custo operacional:

Pensando somente nos táxis, como o Governador, são 2.510 veículos cobrando R$67.00 no trecho. No total, somariam algo em torno de R$168 mil por hora e sentido. Levando também em conta que a operação no horário de pico (8 horas por dia) entre segunda e terça-feira (total de 32 horas),  seriam gastos com esse “PAESE de Taxi” aproximadamente 538 mil reais para cobrir essa “solução” que foi proposta em entrevista.
Trocando em miúdos:

operacao_taxi
Diagrama de custos e operação por táxi entre estações. (Lopes,2018).

Somente com esse montante e não considerando que haja outras falhas dessa magnitude, não daria para construir grandes obras de infraestrutura, novas linhas ou comprar novos trens. Mas a oneração dos cofres públicos da ordem de R$538 mil por falhas que durem mais que dois dias, resultaria aos poucos a retirada de recursos que podem ser alocados em outros tipos de melhorias no sistema, como a manutenção de via permanente, conservação de trens (que são bastante vandalizados até hoje) e na continuidade das obras de modernização, que visam diminuir inclusive, as falhas que afetam o sistema e que se reduzidas, evitariam esses gastos com Táxis e até um congestionamento causado por eles. Lembramos que não somos contra os taxis ou aplicativos, mas eles não podem absorver uma demanda competente ao transporte de massa na Região Metropolitana.
Indo um pouco mais longe, daria para considerar a contratação de mais vigilantes/ força policial e até a instalação de mais câmeras para aumentar a segurança no trecho com o valor em questão. Sem pensar em outras áreas que esse valor poderia ser empregado, como saúde pública, saneamento, segurança…

A boa utilização dos recursos públicos é de responsabilidade do gestor público, bem como utiliza-los da melhor maneira, buscando atender a maior parcela da população possível e sem preterir qualquer lugar ou condição social.

O sistema de transporte, tanto sobre trilhos quanto sobre pneus merecem sim maiores investimentos relacionados à melhoria da operação, procurando diminuir as falhas e reduzindo custos operacionais, através de uma operação de transporte verdadeiramente eficiente. Por isso, os gastos seriam mais bem direcionados às intervenções pontuais no sistema e não só somente ao financiamento do percurso dos passageiros, que independente do que aconteça, não fica desatendido pela existência do plano PAESE, que também gera gastos aos cofres públicos e que atendem a um maior número de passageiros por vez, reduzem congestionamentos (em comparação aos taxis) e além de tudo, não seja uma ideia um pouco mirabolante para a realidade do transporte na Região Metropolitana de São Paulo.

Tags

Sobre o autor do post

Rodrigo Lopes

Paulistano, formado em Logística e graduando de Tecnologia em Transporte Terrestre, sempre gostou de transportes e tudo o que envolve a mobilidade, transportes e planejamento urbano. Participa de projetos relacionados a preservação ferroviária, transporte não poluente e gestão pública. Criador do Boletim do Transporte em 2011, desde Abril de 2018, colabora com o Via Trólebus.

Via Trolebus