Foi destaque no telejornal da TV Globo, o SPTV desta terça-feira, 12 de julho, a notícia de que três milhões de motoristas foram multados por radares em São Paulo nos três primeiros meses de 2016, representando um aumento de 86% em relação ao mesmo período do ano passado.
Em tom de inconformismo, uma motorista afirma à reportagem que já perdeu a carta por duas vezes por desrespeitar as normas, na qual ficou ciente, ou deveria ter ficado, quando tirou a habilitação.
Já no dia seguinte, na quarta-feira, no quadro Discuta São Paulo, da Rádio CBN, o comentarista e âncora da emissora discutiam a relação entre o aumento de multas e a popularidade do prefeito Fernando Haddad, e o que poderia ser uma falta de comunicação entre o poder público e o munícipe que recebe as infrações.
Como em muitos casos, o foco principal da discussão é a chamada “Industria da Multa”, e outros assuntos relacionados com o tema, acabam por ficar esquecidos. Por exemplo, se de fato existisse a tal sede do poder público em multar, quanto isso representa à arrecadação?
Outro assunto correlato, e talvez o mais importante, é o número de “acidentes”, feridos e mortos no trânsito, intimamente ligados às infrações, cenário comprovado em pesquisa, e que quase nunca estão presentes em reportagens.
Um estudo feito pela Companhia de Engenharia de Trafego (CET) relacionou mortes no trânsito e motoristas que cometem infrações como excesso de velocidade e desrespeito ao semáforo vermelho.
O levantamento analisou 194 Relatórios de Investigações Fatais (RIFs), obtidos entre janeiro de 2014 e outubro de 2015. Neste universo, os 280 veículos envolvidos em pelo menos uma morte, haviam cometido, até o momento dos acidentes fatais, 2.547 infrações de trânsito. Desse total, 1.618 foram multas dadas “em movimento”.
“Destas multas, 67% foram motivadas por excesso de velocidade e desrespeito ao sinal vermelho”, diz o relatório. Segundo o estudo, “existe uma relação direta entre acidentes fatais investigados e as infrações cometidas: 85% tinham multas no prontuário”.
Outro estudo do Instituto Avante Brasil apontou que em termos absolutos, o Brasil é 4º país do mundo com maior número de mortes no trânsito, ficando atrás somente da China, Índia e Nigéria. Dados do próprio governo federal da conta de que em 2013, foram 42.266 pessoas que perderam a vida em “acidentes” de trânsito.
Será que o cometimento de infração torno-se tão banal, ao ponto de se questionar a aplicação de multas?