Imagine uma cidade com um rio poluído margeado de pistas de rolamento destinadas em sua maioria aos carros, quase sempre entupida de trânsito. Não, não estamos falando de São Paulo embora estas características sirvam para nós. Nossa abordagem é a respeito de Seul, Coreia do Sul e seu Rio Cheonggyecheon.
Em um momento em que se discute o fechamento de ruas para automóveis junto com políticas de mobilidade, parte dos administradores e ativistas fazem uso da tese da teoria chamada “Demanda induzida”, ou “teoria do trânsito induzido”. A grosso modo é ideia de que quanto mais vias abertas ao carro, maior será o trânsito.
Isto pode explicar, por exemplo, as novas pistas das marginais. Desde a inauguração da terceira via, a média de trânsito na marginal Tietê subiu 80%, de 19,8 km para 35,7 km. O conjunto de obras foi defendida como crucial para reduzir o nível de congestionamento. (Relembre aqui)
Se grandes vias causam congestionamento, eliminá-las pode acabar com o tráfego lento? Um projeto da capital da Coréia apontou que sim.
Nos anos 90 a cidade apresentava os mesmos problemas de saturação tráfego, e sobre o rio Cheonggyecheon um grande viaduto abrigava carros com seis pistas de alta velocidade, além de vias nas margens ao longo do Rio.
O então prefeito de Seul (que também foi presidente da Coréia do Sul) Lee Myung Bak, propôs um projeto radical: demolir a grande e importante avenida para a recuperação da área. Em 1999, iniciou-se a demolição do viaduto, liberando o canal e o concreto demolido foi reciclado e reaplicado na própria obra.
Em 2003 inicia-se a despoluição do rio, de recuperação urbanística da região e do projeto arquitetônico. Hoje a cidade possui um canal de 80 metros de largura numa extensão de 8 km, totalizando 400 hectares de áreas verdes. Houve também uma redução de 3,6 graus Celsius na temperatura média em relação ao resto da cidade.
O trânsito por sua vez foi absorvido pelas vias laterias, junto com pequenas intervenções e indicadores mostraram que houve melhora.
Claro que politicas públicas carecem de planejamento. Em nosso caso, as Marginais não abrigam apenas o trafego local, mas serve como mini anel viário da cidade, além de escoamento de carga, já que o transporte ferroviário em nosso país não parece ser muito nosso forte.
Cabe ressaltar também que Seul possui 287 quilômetros de Metrô, além de trens urbanos, linhas de metrô leve e um confiável sistema de ônibus, com faixas exclusivas. A cidade também possui ciclovias, e no país são 2000 km de vias para ciclistas que ligam cidades.
Mesmo assim, aqui fica este importante registro de como Seul repensou seu espaço urbano.