Nesta quarta-feira (16) o ciclista Paulo Zapella divulgou uma mensagem em seu facebook após ter sido hostilizado simplesmente por andar de bicicleta. A mensagem viralizou na rede social, e até as 23h00 eram quase 2 mil compartilhamentos. Confira na íntegra:
“tava eu pedalando de boa no cantinho da r. groenlândia, no pedaço da última faixa da direita, onde estavam os carros estacionados (ou seja, sem interferir em nada o fluxo das outras faixas [não que eu não possa, ok?]), quando um indivíduo emparelha um fiesta do meu lado e solta “e aí, comunista?”. achei que era piada e ri, até o dito cujo começar a dar pequenas jogadinhas com o carro em cima de mim. não abri a boca, continuei pedalando enquanto o cara começou a se alterar cada vez mais e gritar ‘comunista do caralho, filho da puta, vai andar na ciclovia do haddad, seu merda,’ e etc. achei tão bizarro que não esbocei nenhuma reação. o sr., totalmente alterado, saiu acelerando, e no próximo cruzamento, com a rua mena barreto, atravessou o sinal vermelho (na tampa traseira tinha um peixinho de ‘jesus’), mas ficou travado no trânsito pra cruzar a brigadeiro. sem nenhum esforço eu percebi que iria alcançá-lo, e neste curto período de tempo me perguntei o que eu deveria fazer. bater boca? chamar o cara pra porrada? chutar o carro? resolvi que não, não ia fazer nada. ia passar no canto e seguir meu caminho. no momento em que fui passar por ele, o cara acelera e joga o carro em cima de mim, quase colidindo com o outro que tava na faixa do lado (e provavelmente não entendendo nada). parou o carro atravessado no meio da rua e começou a gritar loucamente de novo “E AÍ, COMUNISTA? E AGORA?”. bom, e agora que eu desviei pro outro lado e segui pelo meio do trânsito onde ele nunca conseguiria me alcançar.
mas e aí? o que vai acontecer com o próximo “””comunista””” que simplesmente passar pelo caminho desse cara? quando a rua estiver livre, quando não tiver mais ninguém? eu posso afirmar que nos 30 e poucos anos que eu tô por aqui, este é o momento histórico mais escroto que eu já vivi. e tem muita gente plantando essas sementinhas de escrotismo diariamente. No facebook, nas conversas de bar, nos almoços de família. Parabéns pra vocês, os frutos já estão sendo colhidos. vocês são responsáveis por pessoas como eu estarem sendo gratuitamente ameaçadas e agredidas na rua por “pessoas de bem”.
Ciclovias são suprapartidárias
O “motorista-educado” esta equivocado quando considera politicas públicas pró bicicleta como viés de políticos somente de esquerda. A exemplo da cidade de Nova York, o prefeito Michael Bloomberg implantou mais de 400 km de ciclovias, e foi eleito quando estava filiado ao Partido Republicano, que tem como base fundamental o conservadorismo.
Em São Paulo, ainda que na gestão do petista Fernando Haddad, as ciclovias tenham sido multiplicadas, a discussão teve início na gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab, quando foram implantadas as primeiras ciclovias e as ciclofaixas do lazer, que tem como um dos objetivos estimular a convivência entre motoristas e ciclistas. Na CPTM e no Metrô, ambas do Governo do Estado, foram administradas por Sergio Avelleda, que implantou uma série de medidas que incentivam a locomoção dos que pedalam, como a liberações dos trens em alguns horários para as bicicletas, além da construção das ciclovias da Marginal Pinheiros e Caminho Verde (Radial leste).
Ciclovias não são do Haddad
É correto dizer que as ciclovias são uma das bandeiras da administração de Fernando Haddad. Porém, as estruturas não vão sair quando acabar a gestão do prefeito do PT. O plano cicloviário foi elaborado por técnicos e engenheiros da CET, muitos de carreira. Grande parte das ciclovias foram projetadas nos anos 80, quando Haddad nem sonhava em ser prefeito. As ciclovias são da cidade…
Outros casos de intolerância
Este não é o primeiro caso de intolerância por parte de pessoas que enxergam em ciclistas, cabos eleitorais. Em 2014 taxinhas foram encontradas na ciclovia da Rua Artur de Azevedo, em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo. Meses depois outros materiais pontiagudos foram deixados na travessia de acesso da ciclovia da Rua Madre Cabrini, na Vila Mariana. Detalhe: Lá o espaço é compartilhado entre ciclistas e pedestres, ou seja, você pode ser premiado simplesmente por caminhar no local.
Em agosto deste ano Giovanna Franceschi Dias passou por uma situação não muito agradável, quando um motorista de um carro jogo o automóvel em cima dela para “dar uma lição”. Depois do feito, abriu a janela e gritou “vai lamber as bolas do prefeito, vagabunda! Aqui não é Amsterdam”.
Falar em ciclovia é falar em mobilidade urbana, em uma cidade que amarga prejuízos financeiros e de saúde por conta da falta da própria mobilidade. Cabe no debate o apontamento de falhas e defeitos nas vias para bike implantadas por este gestão. Tapar os olhos por paixões partidárias não vai construir uma cidade melhor.