Na entrevista emblemática a rádio Jovem Pan concedida pelo prefeito da capital paulista, Fernando Haddad, o administrador da maior cidade brasileira já havia afirmado de que quanto mais se abria vias de rolamento para os carros, maiores índices de congestionamentos seriam registrados, em resposta sobre o investimento em faixas de ônibus e ciclovias.
Neste semana jornalista Leão Serva, em coluna na Folha de SP, cita estudos consolidados da engenharia de tráfego na Europa e nos Estados Unidos que comprovam a afirmação do prefeito, de que a ampliação das vias para trânsito de carros particulares aumenta os congestionamentos, depois de uma rápida melhoria de fluidez.
Em seu texto é citado estudos técnicos desenvolvidos a partir da criação de grandes soluções viárias especialmente em Londres, que mostram que “a oferta de maior capacidade em vias resulta em ainda maior volume de tráfego” e o conjunto dos estudos revela que nas vias adicionadas o “trânsito cresce 10% no curto prazo e 20% em prazo mais longo”, conforme o livro “Empirical Evidence on Induced Traffic (evidências empíricas do trânsito induzido). Ou seja, ele conclui que “podemos esperar ainda mais congestionamento na Marginal Tietê nos próximos anos (até atingir 20% a mais do que tinha antes de 2010)”.
Recentemente o paulistano acompanhou a discussão sobre uma possível “não consulta” da população em relação a construção das ciclovias. O jornalista lembra o episódio das construções da terceira pista da marginal, com muitos mais efeitos na locomoção dos paulistanos: “Teve pouco impacto nos meios de comunicação uma importantíssima notícia sobre o trânsito na cidade: a informação de que o congestionamento na Marginal do Tietê quase dobrou desde a ampliação da avenida, inaugurada em 2010”.
Leão Serva ainda desmonta possíveis explicações sobre o aumento no trânsito: “a primeira reação diante desses dados é pensar que a avenida atraiu carros que estavam em outras ruas. Não. Os estudos mostram que aumenta o trânsito na nova via mas não diminui nas anteriores. Outro argumento é o aumento da frota. Falso também: o aumento do congestionamento em uma nova avenida é sempre maior do que o crescimento da frota (por exemplo, a paulistana cresceu mas nada perto de 80% em cinco anos). O que ocorre é que automóveis que ficaram em casa são postos a circular diante da notícia da melhora (efêmera, inicial) da fluidez”. diz o jornalista.
O Jornalista termina seu texto rebatendo talvez o argumento mais usado por quem não quer deixar o carro: “Há uma frase típica da hipocrisia de muitos usuários intensivos de automóvel que diz: ‘Se o transporte público fosse bom, eu usaria’. Ela ignora o alto índice de satisfação manifestado por aqueles que fizeram a opção, como mostram as pesquisas feitas para o guia Como Viver em São Paulo Sem Carro. Ignora também que as cidades com melhor transporte público no mundo também têm congestionamento. Ou seja: quem é dependente do automóvel não vai largar o vício se não for forçado”.
Leão Serva é ex-secretário de Redação da Folha, é jornalista, escritor e coautor de ‘Como Viver em SP sem Carro’
Para ler o artigo no original, visite o site da Folha de SP