O volume de passageiros transportado pela Linha 3-Vermelha do Metrô de São Paulo chega a ser assustador. Em alguns horários, a lei da física, onde 2 corpos não podem ocupar o mesmo espaço chega a ser desafiada. Perguntando para o cidadão que usa o ramal, quase todas as respostas vão ser que a capital paulista necessita de mais linhas metroviárias. Esta informação é verdadeira, mas não absoluta.
É o que diz uma pesquisa de mestrado do Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) da USP, em São Carlos, na qual foi dado enfoque ao bairro de Itaquera, na zona leste. Segundo os estudos, a baixa oferta de empregos na região é determinante para a situação que vemos hoje na linha 3.
A pesquisa chama a sobrecarga do ramal de “acima do humanamente tolerável”. De acordo com da Companhia do Metropolitano de São Paulo, o Metrô, a linha vermelha transportou mais de 1,1 milhão de passageiros por dia útil em 2012, mais que todas as outras linhas.
O jornalista Wellington Ramalhoso, autor da pesquisa, explica que isto se deve à baixa oferta de empregos em bairros periféricos, já que diariamente os moradores usam o metrô para se deslocarem de casa aos postos de trabalho, passando pelo centro. Desde 1969, havia o interesse de que o distrito de Itaquera se tornasse um centro regional, integrando moradia, transporte e emprego, como previa o Plano Urbanístico Básico (PUB), encomendado pela prefeitura para se tornar o primeiro plano diretor da história da cidade. Ao longo dos anos, porém, a geração de trabalho no bairro foi deixada de lado devido, principalmente, às descontinuidades políticas e do planejamento urbano deste período até os dias atuais.
“Maior conciliação entre os governos federal, estadual e municipal resultaria em investimentos para construção de linhas que auxiliassem no transporte da região”, sugere Ramalhoso. O jornalista argumenta que, no início de seu estudo, acreditava que o principal problema da Linha Vermelha fosse o traçado dos trilhos que atravessam a cidade, mas percebeu que a real necessidade é a de novas linhas, que ajudariam a aliviar a superlotação nos horários de pico. Segundo o jornalista, o projeto original do Metrô, de 1968, previa que até 1980 fossem construídos 66 quilômetros (km) de metrô, marca que São Paulo só alcançou recentemente. Já o PUB, em 1969, propunha uma rede metroviária com 450 km e abrangência metropolitana.
De acordo com Ramalhoso, a construção de estações do metrô não contribuiu para a elitização de Itaquera, e que este processo pode acontecer no bairro devido às obras do estádio do Corinthians, que sediará jogos na Copa do Mundo de 2014. Quando ele iniciou a pesquisa, este projeto ainda não existia, mas conversando com moradores do local, ele percebeu que “o estádio talvez venha a gerar uma expulsão de pessoas de menor renda e uma elitização da região”. (Com as informações da Agência USP de Notícia)