Na Semana Nacional de Trânsito, que começa neste domingo (18), especialistas no assunto levantam números que reforçam o aviso de que é preciso investir urgentemente na ampliação do transporte público ou, inevitavelmente, todos os paulistanos serão obrigados a mudar radicalmente seus hábitos. Para eles, se os índices de crescimento da frota de veículos individuais e do transporte coletivo de qualidade, como o metrô, se mantiverem os mesmos até o final da década, a maior parte dos motoristas só conseguirá andar de carro na cidade nos fins de semana.
De acordo com o consultor e mestre em transportes, Sergio Ejzenberg, em 2020, o uso do veículo de passeio na capital paulista deverá ficar restrito às atividades de lazer e compras, feitas basicamente aos fins de semana e fora dos horários de pico do trânsito.
No cenário previsto por Ejzenberg para 2020, só a frota de carros e motos, sem contar ônibus, micro-ônibus, caminhões etc, chegará aos cerca de 8 milhões. Atualmente, São Paulo concentra 5,1 milhões de carros e a frota total já passa dos 7,1 milhões. Segundo o consultor, o número de automóveis deve pular para mais de 6 milhões e o de motos, para mais de 1,5 milhão até 2020: “O problema maior não é o tamanho da frota em si, mas o uso que se faz do automóvel. A pesquisa Origem/Destino do Metrô [feita entre agosto de 2007 a abril de 2008] aponta que essas viagens eletivas [lazer] somam aproximadamente 20% do total na região metropolitana. Já os deslocamentos por motivo de trabalho e educação somam 80% e são feitos na hora de pico”.
O professor de engenharia de tráfego da Unicamp (Universidade de Campinas), Percival Bisca, concorda que, neste futuro não tão distante, as pessoas deverão adequar o uso do automóvel, como já é feito em cidades dos Estados Unidos e da Europa: “Ter um automóvel é um desejo muito forte das pessoas. Se você tem dinheiro, como não vai ter carro? Mas uma coisa é você ter, outra é usá-lo para trabalhar. Em Nova York, por exemplo, as pessoas têm automóvel, mas não usam para trabalhar. Usam para o final de semana, para passear, viajar”
Os especialistas afirmam, no entanto, que para que essa mudança de hábito ocorra é preciso oferecer um serviço de transporte público de qualidade, que atenda à demanda da população que, só no capital paulista, chega aos 11,2 milhões de habitantes.
Metrô
Para Ejzenberg, a solução é ter uma ampla rede de metrô, que seja interligada a outros modais como corredores de ônibus (inclusive intermunicipais) e trens da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). Se Estado, município e a União concentrarem esforços, não haverá problema de mobilidade em São Paulo.
A promessa do governo de São Paulo é que o sistema – que atualmente conta com um pouco mais de 70 km de trilhos – deverá chegar a 140 km de extensão até o final desta década. A previsão do coordenador de implantação de projetos do Metrô, Jayme Domingo Filho, inclui ainda a construção dos monotrilhos da linha 17-Ouro e da linha 2 – Verde.
Segundo ele, o crescimento será suficiente para atender 7 milhões de pessoas por dia. Levando em conta que cada carro transporta, em média, entre uma e duas pessoas, os 7 milhões equivaleriam à média do número de pessoas que circulam de automóvel todos os dias na capital atualmente.
No pico alcançado pelo Metrô em agosto deste ano, mais de 4 milhões de passageiros foram transportados pelo sistema em um único dia: “O planejamento é para suportar uma demanda que está reprimida. Aquela pessoa que nunca pegou o metrô, e que vai pegar”. Apesar da visão positiva de Domingo Filho, caso esse crescimento do Metrô se confirme e, até o final da década, a cidade tenha 140 km de trilhos, a extensão é menos da metade da meta anunciada pelo PSDB em 1999 (durante o governo Mário Covas) de atingir 284 km de malha metroviária até 2020.
Outros investimentos
Bisca defende ainda que só o crescimento do transporte público não resolverá o problema. Para ele, é importante melhorar também o sistema viário, não apenas nas áreas periféricas, mas no centro da própria cidade, com a criação de mais túneis e ampliação das vias: “São Paulo não deu a devida atenção ao sistema viário e nem fez obras para o automóvel. As últimas grandes obras foram o Minhocão e a avenida 23 de Maio, nos anos 70. É muito pouco, precisa fazer mais”. Domingo Filho também afirma que só metrô não irá resolver o problema na cidade: “A cidade precisa de mais projetos e será preciso mais ações, não só na área de transportes, mas também na ocupação de solos. Criar empregos, melhorar as atividades nas regiões extremas na cidade, que possibilitem que o pessoal que more nessas regiões não precise de transporte para chegar ao trabalho” – completou
Por Renato Lobo, com as informações de Fatima News