Dois estudos diferentes que dizem respeito a uma mesma futura linha metroviária divergem quanto a uma tripla integração entre ramais metroviários na cidade de São Paulo. Trata-se do cruzamento da futura Linha 16-Violeta com as Linhas 1-Azul e 2-Verde.
Por um lado, o Metrô de São Paulo justificou sua escolha com base em estudos de fluxo da rede, e por outro, um documento assinado pelo governo estadual e pela Acciona fala em “risco construtivo”. Este último está disponível na consulta pública do novo eixo metroviário.
O ramal nasceu a partir do planejamento do Metrô de São Paulo, prometendo ligar Cidade Tiradentes até Oscar Freire. Parte do traçado seria construída por uma supertuneladora capaz de deixar espaço para quatro vias. A estatal chegou a ganhar destaque internacional no International Sustainable Railway Awards (ASRI), realizado em Berlim, na Alemanha, e promovido pela União Internacional das Ferrovias (UIC). A Linha 16-Violeta foi um dos três projetos selecionados na categoria “Melhor uso de tecnologia de baixo carbono”.
Na visão do Metrô, paraíso comportaria melhor a distribuição dos usuários na rede
Neste contexto, a Linha 16-Violeta passaria pela região do Paraíso. O projeto diretriz da Linha 16, elaborado pelo Metrô e disponibilizado no site da Companhia em 2021, descrevia que as estações Paraíso e Ana Rosa possuem funcionalidades semelhantes na rede sobre trilhos. Por estarem uma na sequência da outra, permitem ao passageiro escolher em qual estação fará a integração sem alterar sua rota.
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Devido a essa similaridade, o modelo de estimativa de demanda não consegue captar a divisão das integrações entre ambas. Assim, adotou-se como critério que todas as conexões ocorrem na primeira estação que o usuário alcança. Como resultado, os dados de transferência acabam desbalanceados, dificultando o dimensionamento adequado das estações.
Devido a isso, parte do estudo da estação foi identificar, na projeção de demanda, a origem e o destino dos fluxos de integração de ambas as estações e redistribuí-los, considerando questões como facilidade de percurso, distância da transferência e rotas. Comparando o percurso do passageiro integrado em ambas as estações, o Metrô identificou algumas diferenças:
Na estação Ana Rosa, todos os passageiros integrados fazem o percurso de subir ao mezanino e descer à plataforma, percorrendo dois desníveis. Na estação Paraíso, apenas na integração entre a plataforma no sentido Jabaquara e a plataforma no sentido Dutra o passageiro percorre dois desníveis. As demais integrações são mais atrativas, com apenas um desnível no percurso ou ocorrendo no mesmo nível, como no caso da integração entre a plataforma no sentido Jabaquara e a plataforma no sentido Cerro Corá, bastando atravessar a plataforma.

Além das diferenças de percurso, na estação Ana Rosa da Linha 2-Verde não há escadas rolantes nas plataformas, obrigando o passageiro a utilizar escadas fixas. Já na estação Paraíso, o percurso vertical pode ser feito por escadas rolantes em todas as plataformas.
Além das diferenças nos percursos internos às estações, a escolha do passageiro entre ambas depende também da sua rota na rede. Para os passageiros com origem em Tucuruvi e destino em Cerro Corá, por exemplo, a integração em Ana Rosa implicaria em percurso negativo, sendo, portanto, desvantajosa.
Na visão do planejamento do Metrô, a maior parte dos usuários opta pela conexão em Paraíso, por ter um menor número de desníveis. A estatal ainda relatou no estudo a chegada da Linha 16-Violeta em Paraíso, haverá um aumento de cerca de 67% na demanda diária
da estação, com maior impacto na Linha 1-Azul. Com essa perspectiva de aumento de demanda e por Paraíso ser mais atrativa para a integração, recomendou-se a inserção de escadas rolantes nas plataformas da estação Ana Rosa, de modo a torná-la mais atrativa para receber parte da demanda integrada da estação Paraíso.
Acciona fala em risco, que pode afetar a segurabilidade e financiamento
Já o estudo da Acciona, chamado de Estudo de Alternativas Locacionais, fala em risco construtivo. A principal integração originalmente proposta no PD ocorria na estação Paraíso. Segundo a empresa, que está construindo a Linha 6, essa integração apresentava diversos riscos construtivos e uma severa afetação no entorno. O principal risco construtivo era a construção da caverna que abarcaria as plataformas sob a Avenida 23 de Maio — uma das principais vias da cidade.
Após avaliação técnica, do ponto de vista de gestão de risco global para o empreendimento e seus desdobramentos ao nível de segurabilidade e financiamento, catalogou-se como insatisfatória a solução de integração em Paraíso, especialmente tendo em vista a existência de uma alternativa mais segura.

Adicionalmente, na solução de Paraíso seria necessária a implantação de dois poços de grandes dimensões nas encostas da Avenida 23 de Maio, com afetação na extensão das ruas do entorno, que hoje são responsáveis pela integração entre a Avenida Paulista e a Avenida 23 de Maio. Ou seja, a introdução da estação produziria um impacto significativo na comunidade, em termos de geração de trânsito em um ponto importante da cidade, em um amplo raio de afetação ao longo de vários anos.
A empresa Espanhola aponta que em vista esses dois aspectos, conjugados com o novo cenário de integração da Linha 6 em São Carlos — algo não previsto no projeto diretriz do Metrô —, a escolha pelo ponto de integração da Linha 1 e 2 com a Linha 16 recaiu sobre a estação Ana Rosa, que é funcionalmente idêntica à estação Paraíso e não apresenta riscos anormais ou excessivos, seja na construção, seja no entorno, além de possuir ampla disponibilidade de áreas para desapropriação.
A opção seguida pelo governo estadual é a segunda alternativa, já que o estudo da empresa espanhola está submetido à consulta pública e deve fazer parte do edital. Resta saber como ficará a distribuição dos passageiros naquela região.





