Por. Michael Cerqueira, Presidente da CPTM
O mês de setembro traz sempre uma reflexão importante sobre o futuro da mobilidade urbana, principalmente o ‘Dia Mundial Sem Carro’, celebrado no dia 22. Mais do que uma data simbólica, esse momento é um convite para repensar sobre os deslocamentos e reconhecer o papel estratégico dos sistemas de transporte público, em especial o transporte sobre trilhos, na construção de cidades mais sustentáveis, conectadas e eficientes.
Dados recentes da 5ª edição do Índice de Qualidade da Mobilidade Urbana (IQMU), divulgados em abril de 2025, mostram que a percepção dos passageiros em relação ao transporte público ainda apresenta desafios. No entanto, o mesmo estudo também aponta que, entre os modelos coletivos, o transporte sobre trilhos é percebido como o mais rápido, o que reafirma sua relevância em grandes centros urbanos.
Ao olharmos para os resultados mais amplos, o setor metroferroviário apresentou 2,57 bilhões de viagens em 2024, um crescimento de 3,6% em relação a 2023. Esse aumento demonstra a confiança da população neste modelo de transporte de massa, mesmo diante de dificuldades estruturais, e aponta para o seu potencial de crescimento quando há investimentos consistentes em infraestrutura, modernização e integração com outros modais.
Os benefícios desse sistema vão muito além da agilidade. Em 2024, o transporte sobre trilhos contribuiu para evitar a emissão de 2,4 milhões de toneladas de poluentes e gerou uma economia de aproximadamente R$ 12 bilhões em custos sociais, reforçando seu papel como aliado no combate às mudanças climáticas e na promoção de qualidade de vida nas cidades. Ao transportar entre 15 mil e 80 mil passageiros por hora em cada sentido, chegando a projetos locais que contemplam cerca de 48 mil passageiros, os trilhos oferecem uma capacidade incomparável diante da limitação dos automóveis, que operam com cerca de 1.600 a 2.000 veículos por hora em uma faixa. Essa diferença representa não apenas números, mas a possibilidade de transformar congestionamentos em fluidez e poluição em ar limpo.
Ainda assim, é preciso reconhecer que operar um sistema dessa magnitude exige investimentos, manutenção intensiva e planejamento de longo prazo. O transporte ferroviário é, por definição, um transporte de massa , sujeito a desafios em horários de pico e à complexidade de uma rede que atende milhões diariamente. Mas são justamente essas características que reforçam sua importância. Ele é a espinha dorsal que permite que ônibus, bicicletas e caminhadas se integrem em uma rede capaz de atender diferentes perfis de deslocamento.
É nesse ponto que o conceito de smart cities se conecta diretamente com a mobilidade sustentável. Cidades inteligentes utilizam tecnologia, dados e integração digital para melhorar a vida das pessoas. Sensores, bilhetagem eletrônica, sistemas de informação em tempo real e monitoramento da operação são ferramentas que, quando aplicadas ao transporte ferroviário, tornam o não apenas mais eficiente, mas também mais transparente e acessível. Nos trilhos, cada embarque pode se transformar em um dado estratégico para otimizar a rede, prever demandas e reduzir gargalos, conectando a mobilidade às demais dimensões urbanas, como: energia, saúde e meio ambiente.
Quando pensamos nesse comparativo, vemos que enquanto o transporte individual ainda opera de forma fragmentada e com impacto ambiental elevado, o transporte sobre trilhos se projeta como peça fundamental de uma cidade inteligente, sendo ele: coletivo, sustentável, integrado e capaz de dialogar com soluções de micromobilidade, transporte sob demanda e até mesmo energias renováveis.
Além disso, neste 22 de setembro, com o Dia Mundial Sem Carro teremos mais uma oportunidade de reforçar a importância de repensarmos nossas escolhas. Quando priorizamos o transporte coletivo e integrado, optamos por um modelo que economiza tempo, reduz custos sociais, melhora a saúde pública e contribui para cidades mais sustentáveis e inteligentes. O transporte sobre trilhos, com todos os seus desafios e ainda maiores benefícios, seguirá sendo protagonista nesse movimento.
Ou seja, setembro nos lembra que a mobilidade sustentável não é apenas um caminho possível, mas um compromisso coletivo para o futuro das nossas cidades, e cada vez mais, para a consolidação de verdadeiras smart cities.







