Uma ferrovia de carga que conecta as cidades de Suzano e Rio Grande da Serra (EF-479), frequentemente apontada como parte do chamado “Tramo Leste do ferroanel”, é alvo constante de especulações quanto ao seu possível uso para o transporte de passageiros. Caso essa possibilidade se concretizasse, seria possível ligar diretamente as duas regiões sem a necessidade de deslocamentos longos, como, por exemplo, viajar até o Brás para fazer baldeações.
O trecho ferroviário tem cerca de 27 km, em sua maioria com via singela e algumas alças de ultrapassagem. A linha parte de Suzano, passa por uma parte de Ribeirão Pires, cruza uma área de preservação ambiental e, em seguida, se bifurca, conectando-se à Linha 10-Turquesa nos dois sentidos, por ramais independentes.
O Via Trolebus teve acesso a um estudo interno de 2005 da própria Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), que analisou a viabilidade de se implantar um serviço de passageiros na via. O documento destaca que “diversos foram os pleitos já enviados à CPTM consultando a viabilidade de tal empreendimento, e assim se faz necessário esse primeiro estudo qualitativo do serviço.”
Na época, o transporte público entre esses polos regionais era considerado tímido, com a ligação sendo feita apenas por três linhas intermunicipais de ônibus que circulam pela Rodovia Índio Tibiriçá (SP-31), oferecendo cerca de 800 lugares por hora no pico.
O estudo apontou que um trem regional nesse traçado poderia beneficiar moradores dos próprios municípios, como usuários de bairros e distritos de Suzano que se dirigem ao centro da cidade. No entanto, a demanda projetada foi considerada baixa.
Estações propostas e simulações de carregamento:
Capacidade ociosa e altos custos
Segundo a análise da CPTM, mesmo em um cenário de médio prazo, a projeção de demanda não justificaria a implantação de um sistema sobre trilhos de alta capacidade. O trecho mais movimentado teria uma estimativa de apenas 2.500 passageiros por hora no pico, o equivalente a 12,5% da capacidade da linha simulada (20 mil passageiros por hora/sentido, considerando trens de 2.000 lugares com intervalos de 6 minutos).
Para atender um público potencial de cerca de 55 mil passageiros por dia, seriam necessários investimentos na ordem de R$ 1 bilhão, considerando um custo de 10 milhões de dólares por quilômetro sinalizado e eletrificado — sem contar o material rodante.
Diante desse cenário, o relatório apontava que soluções mais adequadas poderiam ser a requalificação do sistema viário e melhorias na integração entre os modais já existentes.
Outras barreiras
O estudo também destacou dois obstáculos relevantes: o primeiro diz respeito à propriedade e à concessão da ferrovia, que não pertencem à CPTM, o que exigiria articulações institucionais complexas; o segundo envolve as restrições ambientais, já que boa parte da via cruza áreas de proteção de mananciais e matas nativas. Além de atravessar regiões pouco povoadas, a introdução de um sistema de transporte de grande porte poderia estimular o adensamento urbano em áreas sensíveis.
Apesar das dificuldades, o relatório deixa margem para possíveis reavaliações futuras. À época do estudo, o Expresso Leste ainda não chegava a Suzano e a CPTM cogitava outro projeto ferroviário — o chamado “Expresso Sudeste” — que poderia estender os trilhos até Rio Grande da Serra.





