Estado vai pagar R$ 347 milhões pelo fim do monotrilho no ABC

Seis anos após a extinção da Linha 18-Bronze do Metrô, que facilitaria o deslocamento de passageiros de São Bernardo do Campo, Santo André e São Caetano do Sul até São Paulo, a conta chegou: R$ 347 milhões. Esse é o valor que o Estado de São Paulo deverá pagar à concessionária cujo contrato foi rescindido após o governo não cumprir com as desapropriações necessárias.

Nesta quinta-feira, o Diário Oficial do Estado publicou o acordo:

“O Estado de São Paulo, por intermédio da Secretaria de Parcerias em Investimentos, representando a extinta Concessionária do Monotrilho Linha 18-Bronze S/A — formada pelas empresas Primav Infraestrutura S/A, Construtora Cowan S/A, Encalso Construções Ltda, Igli do Brasil Participações Ltda e Benito Roggio Transporte Sociedad Anonima — celebra o seguinte:

Objeto: Instrumento para celebração de acordo administrativo entre o Estado de São Paulo e a Concessionária do Monotrilho Linha 18-Bronze S.A., com vistas ao encerramento amigável do Procedimento Arbitral CAM-CCBC nº 82/2020/SEC7 e consequente pagamento de indenização à Concessionária, em decorrência da rescisão antecipada do Contrato de Concessão Patrocinada nº 11/2014”, diz a publicação oficial.

Mesmo tempo de espera — mas com sistema de menor capacidade

A Parceria Público-Privada (PPP) da Linha 18 foi assinada em 2014 e o anuncio de seu fim se deu em 2019. Na época, sob a gestão de João Doria, o governo estadual apresentou como alternativa o projeto do BRT ABC, um corredor de ônibus em substituição ao monotrilho. As primeiras promessas indicavam que o sistema estaria operacional já em 2022. Passados quase seis anos, o que se tem até agora é apenas uma parada e um único veículo apresentado. As obras seguem em curso, com promessa de entrega para 2026.

Foto: Marcelo S. Camargo / Governo do Estado de SP

Mesmo assim, o BRT deve ter capacidade cerca de 50% menor que a do monotrilho. Enquanto o corredor poderá transportar até 170 mil passageiros por dia, a Linha 18 teria capacidade para 340 mil, segundo dados do próprio governo.

Além disso, o novo sistema penaliza o passageiro em diversos aspectos. No cenário projetado, a linha expressa do BRT levará 40 minutos para percorrer o trajeto, enquanto o monotrilho faria o mesmo percurso em 29 minutos. Outro ponto pouco debatido na imprensa é o impacto tarifário: quem utilizar o BRT terá que pagar uma tarifa extra (mesmo que seja a diferença), ao integrar com as estações Tamanduateí ou Sacomã do Metrô. Se a Linha 18 estivesse em operação, o passageiro pagaria apenas uma tarifa — hoje de R$ 5,20 — e teria acesso a toda a malha metroferroviária de mais de 340 km.

Monotrilho ainda é criticado

A tecnologia do monotrilho, prevista para a Linha 18, é alvo de críticas por parte de profissionais ligados, por exemplo, à fundação do Metrô de São Paulo. A Linha 15-Prata, atualmente a única em operação com esse sistema, enfrentou problemas no início de sua operação plena, como duas colisões e a queda de peças do viário. Esses incidentes ocorreram entre 2019 e 2020, no trecho entre Vila Prudente e São Mateus.

Cinco anos depois, a Linha 15 é a mais bem avaliada entre as operadas pela estatal, e o número de falhas foi significativamente reduzido, evidenciando que o sistema passou por um processo de maturação.

Paulistano, profissional de Marketing Digital, técnico em Transportes, Ciclista, apaixonado pelo tema da Mobilidade, é o criador do Portal Via Trolebus.
Via Trolebus