Como um trem do monotrilho é “colocado nos trilhos”?

Renato Lobo | Via Trolebus

Milhares de pessoas utilizam a Linha 15-Prata do Metrô todos os dias ao longo de seus 14,6 km de extensão e 11 estações. Esse eixo de transporte de alta capacidade reduziu em 30 minutos o tempo de viagem que antes era feito por modos terrestres, como ônibus ou carro, sujeitos a congestionamentos e semáforos.

A linha, que está em expansão nas duas pontas, no futuro deve ligar o Ipiranga até a Jacu Pêssego, o que deve atrair mais passageiros. Por isso, foi necessário aumentar a quantidade de trens que circulam nesse meio de transporte, que utiliza uma tecnologia inédita em sistemas metroviários no Brasil: o monotrilho.

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O sistema consiste, basicamente, em um trem que abraça uma viga que funciona como trilho — daí o nome “monotrilho”. Os veículos se deslocam pela viga por meio de pneus de borracha. Cada trem da Linha 15 tem sete carros, que, juntos, pesam 94 toneladas quando vazios.

Aí fica a pergunta: como o trem foi colocado na viga que serve de trilho?

Direto da China

Para responder a essa questão, é preciso entender primeiro onde esses trens são fabricados. As 19 novas composições estão sendo produzidas na cidade chinesa de Wuhu, por meio de uma joint venture entre a Alstom e a CRRC. Os primeiros 27 trens da Linha 15-Prata, que são do mesmo modelo, o Innovia 300, foram produzidos pela Bombardier. Em 2021, a Alstom finalizou a compra da Bombardier, herdando os produtos da fabricante canadense.

Fonte: Metrô de São Paulo

Na cidade chinesa de Wuhu são produzidos, além dos monotrilhos da Linha 15, trens para o próprio sistema local e para o recém-inaugurado sistema de Bangkok, na Tailândia. O local também deve fornecer material rodante para outra cidade chinesa, Liuzhou, além de sistemas em outros países, como Cairo (Egito), o Distrito Financeiro King Abdullah (Arábia Saudita), Santiago de los Caballeros (República Dominicana) e o Metrorrey, um sistema de veículo leve sobre trilhos que opera em quatro municípios da Região Metropolitana de Monterrey, no México.

Após serem fabricados, cada carro de um trem é transportado por carretas de Wuhu até Xangai, em uma viagem de 380 km. De lá, são embarcados em um navio e percorrem meio mundo em uma jornada de 60 dias rumo ao Brasil, no porto de Santos. Se fosse em linha reta, seriam mais de 18 mil km.

Chegada no Pátio Oratório

Após vencer as etapas burocráticas ao chegar ao Porto de Santos, o trem é transportado em sete carretas até o pátio Oratório, utilizando o sistema Anchieta-Imigrantes. Esse processo ocorre durante a madrugada.

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No pátio, cada carro é estrategicamente alinhado para ser encarrilado na sequência correta, do primeiro ao último. Por exemplo, no dia da gravação, o carro S301 foi o primeiro a ser encarrilado, enquanto o S307 foi o último. Isso acontece porque o primeiro carro do monotrilho sempre fica voltado para o sentido Ipiranga, e o último, para o sentido Cidade Tiradentes.

Após a organização dos carros, o caminhão que transporta o veículo é posicionado em uma viga de ligação, que permite o acesso à viga operacional do pátio. Em outras palavras, é formada uma estrutura-guia para facilitar o deslocamento do carro do caminhão até a viga operacional.

Renato Lobo | Via Trolebus
Renato Lobo | Via Trolebus

Em seguida, os trabalhadores empurram manualmente o veículo até que ele chegue à via operacional do pátio. Durante esse processo, um colaborador permanece dentro do carro para acionar o freio no momento adequado.

Após o encarrilamento de todos os sete carros, eles são engatados, formando a composição, que passará por testes estáticos e dinâmicos antes de entrar em operação para o transporte de passageiros.

Veja todo o processo em vídeo em nosso canal no YouTube:

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Paulistano, profissional de Marketing Digital, técnico em Transportes, Ciclista, apaixonado pelo tema da Mobilidade, é o criador do Portal Via Trolebus.
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