Em 27 de março de 1968, a cidade de São Paulo se despedia dos bondes. Os elétricos saíam de cena para dar espaço ao chamado “progresso”. Na época, dizia-se que os veículos atrapalhavam o trânsito. Mas o futuro iria mostrar que era o trânsito que, na verdade, atrapalhava não só o bonde, como também um transporte moderno que, anos mais tarde, a mesma prefeitura iria vender como projeto inovador.
Quase 60 anos depois, o bonde é reconsiderado no centro de São Paulo, inclusive levando o próprio nome “Bonde São Paulo”, em forma de Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT). A prefeitura tem projeto de duas linhas para interligar o centro histórico e a região da José Paulino.
Mas o que o antigo bonde tem a ver com o moderno VLT? Tudo. E Lisboa nos ensina que o bonde de ontem poderia ter sido o atual VLT que nós jogamos fora. E olha que a capital de Portugal tem desafios na mobilidade, como o crescente número de passageiros e uma malha acanhada de metrô.
Nesse quarto episódio da série Via Trolebus Europa, o canal mostra que o bonde e VLT, em Lisboa, dividem o mesmo espaço e até o mesmo trilho.
A história
O sistema surgiu na cidade em 1872, com veículos puxados por cavalos. Em 1900, chegaram os elétricos, que chegaram a cobrir uma extensão de 76 quilômetros nos anos 50, mas foi reduzida para 26 quilômetros nos dias de hoje.
Os veículos mais clássicos foram produzidos entre 1936 e 1947. A capital portuguesa conta atualmente com seis linhas de elétricos. O horário de operação é das 6h da manhã até por volta das 23h.
A Linha 15E é a única a operar em modo de VLT, e curiosamente os veículos são unidirecionais, ou seja, há apenas cabine de comando em uma das pontas do trem. Isso significa que o bonde precisa dar a volta para seguir no sentido contrário. Mas isso faz sentido, já que os novos trens, 15 no total, produzidos pela espanhola CAF, operam na mesma infraestrutura dos antigos elétricos. Nessa linha, diferente das demais, é necessário comprar o bilhete antes de embarcar.
Quem opera os veículos é a Companhia Carris de Ferro de Lisboa (ou, simplesmente, Carris), uma empresa de transporte público rodoviário coletivo de passageiros da cidade. Além dos bondes, opera ônibus, funicular e elevador, numa rede que funciona 24 horas por dia. A Carris é uma estatal, sendo controlada pela Câmara Municipal. Seu slogan é “Cada lisboeta tem o seu caminho, a Carris está cá para todos.”
O amarelo presente no VLT e em grande parte do bonde está nos ônibus e em prédios históricos. Os veículos fazem parte do cartão postal da capital portuguesa e fazem lembrar que um dia a maior cidade brasileira jogou esse charme no lixo.
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