Na última semana, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) recebeu o projeto para alterar a denominação da estação São Bento, da Linha 1- Azul do Metrô, para “São Bento – Hip Hop”, em uma referência ao movimento que fez do local um ponto de encontro conhecido nos anos 80. A possível mudança, ainda não aprovada, me despertou para algumas curiosidades sobre a escolha dos nomes das estações do sistema metroferroviário de São Paulo.
Antes de mais nada, é importante compreender que a definição dos nomes das estações respeita uma organização que considera critérios, como: o bairro mais conhecido com a qual se relaciona (estação Lapa, por exemplo); largo ou praça em seus arredores (estação Marechal Deodoro); elementos marcantes da paisagem natural e urbana (estação Borba Gato); rua próxima mais conhecida (estação Fradique Coutinho); e/ou instituição amplamente reconhecida e respeitada nos arredores (estação Clínicas).
Em meados de 2009, o então Secretário dos Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella, com apoio dos presidentes dos grandes times do Estado de São Paulo, aprovou uma iniciativa de renomear estações em homenagem aos clubes, sob a esteira de valorizar o futebol como um fenômeno cultural. Assim, além da estação Corinthians-Itaquera – que já contava com essa denominação desde 1988 – outros times de futebol foram lembrados, sendo: Palmeiras-Barra Funda, Santos-Imigrantes, São Paulo-Morumbi e Portuguesa-Tietê. Mais adiante, em 2015, a estação Mooca da CPTM ganhou o nome de Juventus/Mooca, em referência ao tradicional clube do bairro. Nesse contexto, ainda há um processo em andamento para transformar em Nacional/Água Branca a estação da Linha 7 Rubi, em alusão ao clube, vizinho da estação, que tem em sua história o primeiro jogo de futebol registrado no país, ainda sob o nome de São Paulo Railway, em 1895.
Umas das dúvidas mais discutida e conhecida é: por que a estação Paulista fica na Rua da Consolação, e a estação Consolação fica na Av. Paulista? Isso acontece porque a Av. Paulista tem várias estações em seu eixo. Então qual delas levaria o nome da famosa avenida? Para melhor situar o passageiro, as estações levam nomes com pontos de referência ou vias próximas importantes, como é o caso de Trianon-MASP, que aponta o Parque Trianon e o Museu de Arte de São Paulo, ou a estação Brigadeiro, indicando proximidade à Av. Brigadeiro Luís Antônio. No caso da estação Paulista, anos depois construída na Linha 4 – Amarela, usa-se a mesma linha de raciocínio, já que a rua da Consolação possui quase quatro quilômetros de extensão, sendo a melhor referência de localização para aquela estação a av. Paulista.
Mais recentemente, em 2021, um novo movimento foi iniciado em São Paulo, seguindo uma prática já comum para casas de show, teatros e estádios de futebol: o de negociação de naming rights. A tendência publicitária começou com a mudança da estação Carrão, da Linha 3-Vermelha, para Carrão Assaí-Atacadista, onde a rede atacadista foi fundada. Outras duas estações também já tiveram seus nomes negociados: Saúde-Ultrafarma e Penha-Lojas Besni.
As mudanças em nomes de estação sempre geram discussão por se tratarem de bens públicos. Cabe ressaltar o Projeto de Lei nº 1110/2011, que reforça o entendimento de que o nome das estações deve servir para orientar o usuário do transporte público sobre a sua localização e trajeto a ser percorrido ou destino, diferentemente do propósito utilizado para a denominação de escolas ou praças, por exemplo, por meio da qual se presta homenagem às pessoas mortas que se destacaram por seus feitos junto daquela comunidade.
Com os devidos cuidados observados, escolher o nome de uma estação deve ser algo próximo de escolher o nome de um filho. E quantos filhos São Paulo ainda há de ter…
Caio Luz é ferroviário, especialista em Planejamento e Transportes e, atualmente, ocupa o cargo de secretário municipal de Mobilidade Urbana de Mogi das Cruzes.