Um dos melhores exemplos em urbanidades encontradas no Brasil está em Santos, a maior cidade do litoral de São Paulo. Fundada há 470 anos, atualmente está entre as mais importantes localidades do país, sendo uma das 10 cidades com maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), entre as 20 com maior economia e o maior e mais movimentado porto da América Latina, com 13 km de cais entre as duas margens do estuário.
É a sede da Região Metropolitana da Baixada Santista, a qual é formada por 9 municípios que aglomeram cerca de 1,8 milhão de habitantes, os quais integram a Macrometrópole Paulista, a primeira megalópole (conurbação entre metrópoles) do hemisfério sul, junto às regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas, São José dos Campos, Sorocaba e os Aglomerados Urbanos de Jundiaí e Piracicaba, além da Unidade Regional de Bragança Paulista, atingindo 31,8 milhões de habitantes. É conectada à São Paulo através das rodovias Anchieta e Imigrantes. A cidade também ocupa o primeiro lugar dentre as mais verticalizadas do país, sendo 63% de seus imóveis, apartamentos.
A qualidade urbanística de Santos vem de muito tempo, início do século XX, desde o planejamento urbano feito pelo renomado engenheiro sanitarista, Saturnino de Brito: o idealizador dos canais da cidade. Além de serem um marco da paisagem urbana de Santos, foram planejados para solucionar as problemáticas de alagamentos e doenças, muito comuns naquele período. Diferente de muitas cidades litorâneas, o Centro Histórico de Santos não está localizado à beira mar, mas sim ao norte da Ilha de São Vicente, junto ao canal do porto.
Seu crescimento partiu dessa área para a orla, onde hoje é o segundo centro da cidade e seu principal cartão-postal. Os Jardins da Orla de Santos, com seus mais de 5 km, são classificados pelo Guinness Book, o Livro dos Recordes, como o maior jardim frontal de praia em extensão do mundo. Também idealizado por Saturnino de Brito, os jardins garantem a prioridade aos pedestres e ciclistas na região mais movimentada da cidade, com diversos equipamentos de lazer, cultura, estabelecimentos comerciais e zonas de estar. Porém, esse imenso conjunto paisagístico foi garantido graças ao poeta Vicente de Carvalho e o prefeito Joaquim Montenegro, que pediram auxílio à presidência do período para que os jardins fossem declarados como área pública de Santos, visto o interesse das construtoras da época em ocupar a orla para construir jardins privativos aos edifícios que estavam sendo construídos.
Já no século XXI, talvez o VLT tenha sido uma boa escolha em mobilidade para o contínuo desenvolvimento urbano da Baixada Santista. Como o próprio nome já diz – Veículo Leve sobre Trilhos – sua maior qualidade é a delicadeza com que se relaciona com o meio urbano, valorizando e se integrando às paisagens que passa a percorrer. Na primeira etapa do projeto, o VLT Santista faz a conexão do Terminal Barreiro, na face oeste de São Vicente, com o Terminal Porto, na face leste de Santos. O percurso com pouco mais de 10 km, passa por paisagens urbanas controversas, como bairros periféricos de São Vicente, a área central deste município, o segundo mais populoso da região, um trecho da orla na divisa entre os municípios junto ao Morro do José Menino e os bairros de classe média e alta de Santos até a chegada ao porto.
Nesse exemplo santista, podemos perceber a vocação desse meio de transporte para alimentar centralidades regionais, onde o sistema se insere em áreas de capacidade compatível à sua demanda. No Centro de São Vicente, por exemplo, acaba de surgir o que é provavelmente o edifício mais alto da cidade. Uma torre de escritórios logo ao lado da Estação São Vicente do VLT. Isso sugere o poder de atração de empreendimentos desse tipo ao sistema estrutural de transportes urbanos.