Cidades são para as pessoas ou para os carros? O questionamento do uso do automóvel no meio urbano pode ser encarado como progressista ou como sacrilégio, dependendo da visão política ou de mundo.
Para botar lenha na fogueira, uma publicação do “Washington Post” atribui o século passado, destinado ao automóvel, como erro. O texto, escrito por J. H. Crawford, menciona que até um pouco mais de um século, cidades viviam sem carros e que nem todas se desenvolveram sobre duas rodas, a exemplo de Veneza.
“Carros não eram necessárias nas cidades, e, em muitos casos, trabalharam contra o propósito fundamental de cidades: trazer as pessoas ao convívio culturais e econômicos…removendo carros das cidades, ajudaria a melhorar a qualidade de vida urbana”, diz a publicação.
É consenso de toda a literatura especializada que o uso do meio individual é o grande responsável por mortes no viário, e pela poluição sonora e atmosférica. Por outro lado, é um pouco difícil imaginar o desenvolvimento de cidades sem o uso do carro em deslocamentos para o emprego e até para distribuição de bens de consumo.
Crawford rebate dizendo que existe um desiquilibrio entre os espaços destinados aos veículos e as pessoas, cita a experiência de países da europa, como exemplo.
“Ruas são também os nossos espaços sociais. A maioria das cidades na Europa agora reconhecem que o uso terrível do carros tem sido danoso”, diz a publicação, que cita como solução o uso do transporte público, da caminhada e da bicicleta. “
Carros sem condutor
Sobre os carros sem condutores, vistos como soluções para a drástica redução de acidentes, a publicação afirma que a adoção desta tecnologia não deve aliviar a questão do espaço social destinado ao transporte individual. “Eles ainda exigem muito espaço da rua para a sua circulação e utilização demasiada energia”, diz o texto.
Crawford cita ainda a adoção de modais de transportes públicos subterrâneos, como ideal, mas reconhece que em algumas localidades carecem de condições para implantar esta cadeia de trens, por exemplo. Podemos lembrar da capital paulista, onde demorará muitos e muitos anos para que cada avenida tenha por debaixo uma linha de metrô.
Logística de mercadorias
O fluxo de automóveis não é apenas para o deslocamento de casa/trabalho ou para escola e faculdade. Nosso abastecimento é concentrado neste modelo, e quebrar esta lógica, seria impensável.
Para a publicação, cada cidade deve ser analisada separadamente. “ Amsterdam poderia, com pouca dificuldade, entregar cargas utilizando a sua rede de canais. Cidades que adotam bondes para o serviço de passageiros pode usar a mesma infra-estrutura para entregar o frete à noite”, diz o texto.
“O século do carro foi um erro sedutor. É hora de seguir em frente”, finaliza. Claro que toda a mudança tem que ser precedida de estudos, e não deve ser implantada do dia para noite. Mas a publicação evidencia que não sou poucos os que questionam nosso modo de deslocamento, e de cidade.