O prefeito de São Paulo Fernando Haddad concedeu entrevista ao site “Diário do Centro do Mundo” e falou sobre a polêmica dos protestos do Movimento Passe Livre (MPL) e também sobre ciclovias, dentre outras pautas.
MPL
Nas palavras do prefeito, existe um radicalismo por parte do MPL em reivindicar redução nas tarifa dos ônibus. Haddad sinaliza que não deve ceder a pressão do movimento.
“Os prefeitos todos do Brasil estamos na mesma situação. Todos querem ampliar a gratuidade da tarifa. Sou o primeiro a reconhecer a questão do transporte.
Mas, em março de 2013, portanto 70 dias antes do primeiro protesto daquele ano, defendi a municipalização da Cide, tributo que incide sobre a gasolina. Foi na Folha. Falei que a Cide [sigla para Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico] deveria ser municipalizada para dar aos prefeitos a condição de adotar uma política mais agressiva de modicidade tarifária.
Imaginava naquele momento que aquilo fosse ensejar um debate sobre tarifa. Não vou transferir recursos de saúde e educação.
Para minha surpresa, quando o MPL esteve com a presidenta Dilma, entregou uma carta defendendo a minha tese de março. Infelizmente, parece ter abandonado essa bandeira. Daria para os prefeitos do Brasil uma perspectiva de, sem prejudicar saúde, educação, poder criar um mecanismo para mexer na tarifa.
É possível ampliar os direitos gradualmente. Sem radicalizar. Mas a tática deles é claramente binária: ou levo tudo ou não levo nada. Ou você me dá 100% do que estou pedindo ou você é meu inimigo.
O prefeito é o elo fraco da federação. Houve uma reconcentração de recursos públicos na esfera da União que começou no governo Fernando Henrique. Tem havido um esforço para mudar.
O custo do transporte é de 6 bilhões de reais por ano. Imaginar que você possa abrir mão desse recurso de uma hora para outra é complicado.” – diz Haddad.
Ciclovias
Haddad defende o projeto, e aponta que tendência mundial.
“A mudança de paradigma veio para ficar. Uma vez que a malha viária é a mesma e a ideia de túneis e viadutos se provou um fracasso do ponto de vista urbanístico, qual é a alternativa para a mobilidade? O conceito está estabelecido mundialmente: transporte público, ciclovias, respeito ao pedestre. De um ponto de vista da transversalidade: como isso dialoga com saúde pública, com causas ambientais e com causas sociais. Uma agenda transversal.
Li um estudo recente sobre a saúde dos ciclistas amadores, impressionantemente melhor que a dos sedentários. A saúde do usuário de transporte público também é melhor que a do cara que usa só o carro. Você precisa caminhar até a estação de metrô ou o ponto.
Se os 400 quilômetros de ciclofaixas estiverem prontos até o final deste ano (ele entregou 170 por enquanto), multiplica por 1 metro e meio, a largura de uma ciclovia, e estamos falando de 600 mil metros quadrados — 40% do parque Ibirapuera. Ou seja, você está tirando muito pouco para o impacto todo que estamos tendo.
Ninguém vai ousar remover essas ciclovias. Faixas de ônibus são a mesma coisa. No ano passado, parecia que o mundo ia acabar. Fui acusado de falta de planejamento, falta de tudo…
O trânsito aumentou de 2011 para 2012 14,8%; de 2012 para 2013, 7,8%; de 2013 para 2014, 2,8%, segundo a CET. A cidade se acomoda de outra maneira. Obviamente que o preconceito, o dogmatismo, a intolerância falam alto. Fica mais fácil esbravejar nas rádios do que fazer a conta do que realmente acontece de bom.” – afirma o prefeito.
O prefeito da maior cidade brasileira ainda falou sobre a oposição e a recente polêmica com a ex-prefeita Marta Suplicy. Veja a entrevista completa