Mobilidade Urbana

Crônicas da mobilidade: Trilhos da vida

Apesar das dificuldades da vida, ela nunca perdeu a esperança.
Apesar da distância nunca fugiu da luta.
De cabeça erguida e batalhou sempre.
Encontrou um amor, construiu sua casinha e começou uma vida.
De domingo a domingo sem parar, cuidava da casa, trabalhava e juntava o que podia para realizar mais um sonho.
De repente vem à notícia, mais uma vez ela conseguiu e em breve uma linda criança trará mais alegria em sua vida.
Porém à distância e o transporte com o tempo ficaram pesados.
Acordava ainda era noite, encarava um ônibus em pé, apesar da barriga aparente nem todos se cedem seus lugares.
Ao chegar ao terminal de trem escadas que parecem não ter fim, a cada 10 degraus uma parada para respirar.
De degrau em degrau ela imagina o futuro que este emprego pode dar ao seu filho. Sonha com as roupinhas, escolinha, brinquedos e seus primeiros passinhos.
Longa passarela uma caminhada sem fim. Desce as escadas com passos cuidadosos.
Ao chegar à plataforma já fadigada, espera uma eternidade até ouvir o barulho do trem q se aproxima lotado ela se esmaga protege seu filho com as mãos enquanto muitos fingem dormir, esquecendo-se de suas mães, irmãs e suas avós.
Depois de uma eternidade avista a plataforma, porém ainda não chegou.
Sente os chutes do bebê, talvez reclamando ou dando força para sua mamãe não desistir.
Escada, dores nas costas, suor e sonhos.
Ao embarcar no metrô depois de três estações consegue sentar em um banco preferencial um direito, porém com tantos “dorminhocos” nem sempre respeitando, mas bom senso não depende de lei.
Seus pés inchados, barriga pesada e uma vontade de ir ao banheiro, mas a sujeira do metro não permite.
Poucos minutos parecem não ter fim. A primeira etapa acabou ainda tem a volta e poucas semanas.
Apesar do sufoco ela tem esperança não somente nas melhorias do transporte, mas na evolução do ser.
Acredita no respeito, no amor e na sua maior representação ali dentro de si a semente que será um homem, a semente da vida independente do sufoco, da estação e do aperto.

“Algumas mães são carinhosas e outras são repreensivas, mas isto é amor do mesmo modo, e a maioria das mães beija e repreende ao mesmo tempo.”

Pearl S. Buck

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Arte de  Richard Batista

Sobre o autor do post

Richard Batista

Designer gráfico, ilustrador, marketeiro, atendimento, representante gráfico e curioso. Um paulistano em busca de escrever sua história através de traços e palavras.

Via Trolebus