A três anos das Olimpíadas de 2016, as obras da Linha 4 do Rio seguem um ritmo devagar quase parando. O contrato para compra das 15 composições que percorrerão o novo trecho ainda não foi assinado, e o “tatuzão” sequer começou a operar. Isto é o que revela o jornal O Globo em sua reportagem.
A expansão do metrô para a Barra pode ser concluída a tempo, mas a efetiva operação do sistema é uma incógnita. Na avaliação do engenheiro Fernando Mac Dowell, ex-presidente do Metrô (atual Rio Trilhos), postergar a encomenda dos trens é correr riscos:
“Não existe trem de metrô na prateleira para vender. Ele precisa ser fabricado. Os nossos trens têm bitola (distância entre os trilhos) de 1,60m, quando na Europa, nos Estados Unidos e na Ásia, se usa 1,435m. Além disso, o vão das nossas portas é de 1,90m, enquanto na grande maioria dos outros países é de 1,40m”.
As composições da Linha 4 devem ser fabricadas pela empresa chinesa Changchun Railway Vehicles Co. E a experiência com a compra dos 19 últimos trens para as linhas 1 e 2, do mesmo fabricante, mostra que o prazo entre a formalização do pedido e a entrada em operação dos trens é longo. Especialmente no caso da primeira unidade do lote, que precisa ser testada com mais rigor.
Da assinatura do contrato entre a Changchun e a Metrô Rio, concessionária que opera as linhas 1 e 2, em novembro de 2009, e o embarque do primeiro trem, em janeiro de 2012, passaram-se 26 meses. Mas só três meses depois de sair da China é que o trem desembarcou no Porto do Rio. Em seguida, veio a fase de testes, que durou nada menos que 111 dias. No total, foram necessários 32 meses e meio para esse trem começar a rodar. O último do lote aportou na cidade em fevereiro deste ano, passando a integrar a frota um mês depois e 40 meses após a formalização da encomenda.
Se os mesmos trâmites forem seguidos na futura encomenda, o primeiro trem chinês só começaria a transportar passageiros em abril de 2016, a apenas quatro meses do início das competições. Isso, é claro, se o contrato for assinado ainda este mês.
Confiante, a concessionária Rio Barra, responsável pela compra das composições e do material rodante da Linha 4, garante que “os trens começam a chegar no primeiro semestre de 2015, um ano antes do início da operação”. Por e-mail, a concessionária afirma que está em fase de negociação final com o fabricante para assinar o contrato, e que está dentro do cronograma.
Um otimismo que não encontra eco na opinião de Mac Dowell, para quem a chegada dos trens a tempo dos Jogos depende de alguns fatores:
“Um deles é a quantidade de encomendas que o fabricante recebe de outros países. Há ainda o tempo de viagem, de navio, da China até o Rio. O material também tem de ser testado ao chegar aqui. Não importa se existem outros parecidos rodando”.
Os trens que hoje operam as linhas 1 e 2, diz Mac Dowell, não teriam como transportar passageiros no trecho novo sem provocar um caos no sistema:
“Os intervalos entre os trens aumentariam em 35%, e as estações ficariam ainda mais lotadas”.
Conselheiro do Clube de Engenharia e também ex-presidente do Metrô, o engenheiro Miguel Bahury diz que o risco seria duplicado se a linha em construção fosse colocada em funcionamento sem os novos trens:
“Seria potencializado o problema de não se construir a Linha 4 original (Barra-Botafogo, passando pelo Jardim Botânico) e a ligação Estácio-Carioca. O traçado que está sendo feito deveria ser implantado simultaneamente com o original, para se evitar a superposição das linhas 1 e 2, mitigar a superlotação e melhorar a mobilidade urbana”.
Outro ex-presidente do Metrô e conselheiro do Clube do Engenharia, Carlos Theóphilo de Souza e Mello é mais um técnico a manifestar preocupação com o tempo curto para a compra dos trens:
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“O contrato precisa ser assinado logo, com uma cláusula que estipule claramente quando os trens serão entregues. Essa é uma questão que tem de ser encarada com seriedade”.
Com atraso de dois meses, o novo prazo da concessionária Rio Barra para o início dos trabalhos do “tatuzão” é outubro. O equipamento alemão vai perfurar as galerias subterrâneas no trecho de Ipanema à Gávea. Em fase de pré-montagem, ele chegou ao Rio em março, dois meses depois da data marcada.
Com 16 quilômetros, a Linha 4 deverá transportar 300 mil passageiros por dia. Do custo estimado da obra (R$ 8,5 bilhões), a Rio Barra — formada por Odebrecht Infraestrutura, Queiroz Galvão e Carioca Engenharia — arcará com R$ 1 bilhão. Caberá à concessionária comprar os trens, o que dispensa licitação.
Cinco mil funcionários trabalham na obra. Os túneis entre Barra e Gávea estão com 5,2 mil metros escavados. Em São Conrado, as escavações da estação foram concluídas. Na Gávea, está sendo perfurado um túnel de serviço.
A operação da linha da Barra será feita pela Metrô Rio, que vai pagar por esse direito após a conclusão das obras. A Rio Barra e a Invepar, controladora da Metrô Rio, assinaram um contrato em julho.