O urbanista Jaime Lerner, 74, falou à reportagem do jornal Folha de S.Paulo para opinar sobre os problemas do transporte coletivo da capital paulista, baseado nos resultados sobre o serviço divulgado em pesquisa da Datafolha. No diagnóstico do arquiteto, ‘São Paulo vive a síndrome da tragédia’.
“Vocês gostam de dizer o quanto a cidade é impossível de resolver. Não traz nenhuma vantagem, mas fazem isso com orgulho.”
O ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná critica a dificuldade dos paulistanos em pôr fim às deficiências do transporte coletivo, marcado por superlotação, desconforto e impontualidade.
“Os ônibus são mal-operados”, disse. “Tem de garantir aos coletivos a mesma qualidade do metrô: embarque rápido e tempo de espera de 1 minuto. Sem isso, a cidade não vai mudar.”
Foi no sistema de transporte adotado em Curitiba nos anos 1970, na gestão Lerner, que Enrique Peñalosa buscou inspiração para Bogotá. “A maneira mais eficiente de usar o espaço público são os ônibus. É óbvio”, defende o prefeito da cidade colombiana entre 1998 e 2001. E tudo isso por uma questão de física: ônibus transportam mais pessoas e ocupam menos espaço.
O que fazer: Faixa de ônibus central
O exemplo de rede de ônibus repetido por especialistas é o formado por faixas exclusivas instaladas na parte central das vias, com espaço para a ultrapassagem entre os coletivos.
A gestão Gilberto Kassab (PSD) promete inaugurar, até dezembro, 130 km de faixas para ônibus ao lado direito das vias. Os novos e tradicionais corredores estão em fase de licitação e devem ficar para o próximo governo.
“O pior lugar é na faixa da direita, porque as entradas e saídas de imóveis são ali. Táxi para ali, caminhão faz carga e descarga”, critica o presidente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), Aílton Brasiliense.
E nessa discussão toda, como fica o metrô? “Fazer uma rede completa hoje é impossível. Londres e Paris fizeram há mais de cem anos, quando era barato trabalhar no subsolo”, avisa Lerner. “Não adianta esperar que tudo se resolva com ele. Isso não acontecerá. Não há recursos para isso, nem tempo.”
Com as informações de “Folha de São Paulo”