Você acha caro o preço que se paga para andar de Metrô? O Jornal O Estado de São paulo traz uma reportagem que compara nossos sistemas com de outros países:
Usar o metrô em São Paulo, no Rio, em Brasília ou em Belo Horizonte pesa muito mais no bolso do consumidor do que em Londres, Paris ou Buenos Aires. É o que concluiu um estudo do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), que pesquisou qual o impacto das tarifas de metrô em 19 grandes cidades do mundo em relação ao salário mínimo local.
As quatro primeiras cidades do ranking são brasileiras, e a medalha de ouro ficou com Brasília. Na capital federal, uma tarifa de adulto sai por R$ 3. Quem usa o metrô para ir e voltar do trabalho ao longo de 20 dias úteis no mês desembolsa 22% do salário. O valor recai sobre o trabalho e onera ainda os empregadores que pagam vale-transporte.
O mesmo acontece em São Paulo, que ficou em terceiro no ranking. A tarifa é de R$ 2,90, e o gasto mensal na cidade para andar todos os dias úteis de Metrô é de 19,02% do salário mínimo.
A avaliação é ainda pior se considerado o tamanho da malha. A capital paulista tem 74,3 km de metrô, muito menos do que Paris, que tem 213 km e onde o gasto em relação ao salário mínimo é de 4,82%. Também ficaram colocadas entre as cidades mais caras o Rio, onde o metrô consome 22,02% do mínimo, Belo Horizonte (13,21) e Recife (11,01).
O Idec afirma que tomou alguns cuidados na pesquisa. É comum em cidades europeias, por exemplo, que o preço do metrô varie conforme a distância percorrida e o horário. Foi considerada sempre a tarifa mais baixa possível para um adulto.
O balanço que o órgão faz é que os preços de metrô pagos no Brasil são muito elevados, considerando o poder aquisitivo e a baixa extensão das linhas. “É caro e ineficiente se comparado a outras cidades. Ainda há incoerência nos gastos, com muitos investimentos que favorecem o transporte individual”, analisa a pesquisadora Adriana Charoux, coordenadora do estudo.
Caro. Especialistas em transportes divergem sobre os resultados obtidos pelo Idec. Para o professor da área de transportes na Unicamp Carlos Alberto Bandeira Guimarães, os porcentuais alcançados mostram sim um valor caro para os padrões de quem ganha salário mínimo. “Gastar um quinto do que ganha apenas com transporte é muito.”
Ele chama a atenção, porém, para o fato de que o salário mínimo não é o padrão econômico de grande parte da população em São Paulo. E ainda destaca outras variáveis que podem ter influenciado no resultado, como o fato de cada cidade ter uma política diferente de subsídios para o sistema de transporte.
Também professor da Unicamp, Creso de Franco Peixoto argumenta que o problema está na falta de integração tarifária, que torna todo o sistema de transportes mais caro. “Outro aspecto é com relação a bilhetes voltados ao trabalhador. Você vai a Paris e tem o Hebdomadaire, que é um bilhete para sete dias e com custo bem mais baixo. Ou então o Oyster londrino, que permite uma integração excelente de ônibus, metrô e trem de superfície.”
Já para o consultor Peter Alouche, caso se leve em consideração a integração já existente em São Paulo, com o bilhete único, é possível afirmar que a tarifa é “baratíssima” na capital paulista. “Foi a maior revolução no sistema de transportes no Brasil.”