Mobilidade Urbana

Três horas entre Embu-Guaçu e a Sé: uma história paulistana

greg_1“Acordo às seis da manhã, uso ônibus, trem e metrô e chego ao trabalho por volta das nove e meia”. Assim começa a descrição do cotidiano de Gregory Gonçalves, morador de Embu-Guaçu, cidade no sul da região metropolitana, que trabalha em um escritório do Detran (Departamento Estadual de Trânsito).

O calvário enfrentado por Greg, como prefere ser chamado, representa o desafio de milhares de trabalhadores da região metropolitana. A aventura intermodal começa em um ônibus intermunicipal, que o leva até o Terminal Grajaú. Dali, ele acessa a Linha 9-Esmeralda da CPTM, e desce na superlotada estação Pinheiros.

A viagem de cerca de 40 quilômetros termina nos trens do metrô: Linha 4-Amarela até a Luz e Linha 1-Azul até a estação São Bento.

Atento ao sistema às dificuldades que ele impõe, Gregory fala como um especialista, quando perguntado sobre como melhorar e acelerar o deslocamento das pessoas.

“Aumento nos investimentos no transporte de trilhos para expansão e diversificar o modal. Fazer metrô é caro e demanda tempo. Tem de diversificar como estão fazendo com o monotrilho, que é mais barato e demora menos para ficar pronto. A questão do investimento e expansão também se aplica a CPTM. Elogio o projeto de expansão da linha nove esmeralda que, salvo engano, vai chegar ao Varginha em 2016. Vai melhorar muito a vida de quem mora no extremo da zona sul”.

Além das iniciativas do governo, Greg cobra cidadania dos usuários. Ele lembra que boa parte do desconforto nos trens ocorre pela falta de solidariedade entre os passageiros.

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“Não adianta reclamar do atraso, lotação e lentidão se não fizermos nossa parte. Os maiores problemas são a falta de educação e o egoísmo. A maioria só enxerga seus problemas, suas demandas, seu atraso, seu horário. Não se importa com o outro e vê o cenário dos trens e estações como praça de guerra onde tem que sair matando pelo espaço”.

Apesar de todo o cansaço e tempo perdido em deslocamentos, o sempre sorridente Greg também enxerga qualidades no sistema, exceto pelas já famosas “falhas técnicas”, principalmente na CPTM.

“Essas falhas são constantes e irritantes. Mas considero a companhia bastante profissional: Durante a semana há pontualidade nos trens, as estações estão acessíveis a todos, inclusive para os deficientes, e sempre tem alguém para ajudar quem precisa, além da comunicação visual.

Elogiar o metro é chover no molhado. O sistema é seguro, confiante, tem funcionários treinados, um corpo de segurança próprio, preparado e muito educado. As estações e trens são impecavelmente limpos e afins”.

Como muitos moradores de regiões periféricas, Greg também sonha em morar mais perto de tudo, inclusive de alguma estação de metrô. Se pudesse escolher um bairro, ele ficaria com um pedaço bem tradicional do centro.

“Eu queria morar perto da estação da Luz. Pode parecer loucura, mas eu amo o centro e a proximidade de tudo na cidade. Além disso, é preciso ocupar a região com moradias”.

Por enquanto, Greg continua perdendo três horas de seus dias para chegar ao trabalho… e outras três para voltar para casa.

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Sobre o autor do post

Pedro Craveiro

Pedro Craveiro é jornalista, paulistano, aficionado pela cidade, por mobilidade e pelo transporte público.

Via Trolebus