Ciclista

Como ensinar seu filho a ser um “carrodependente”

Na semana passada a CET implantou uma ciclovia na Rua Madre Cabrini, que faz parte do eixo Jabaquara/Vila Mariana/Vergueiro/Centro. A implantação de faixa para bicicleta em ruas paralelas a Domingo de Moraes se da por conta de obras da linha 5-Lilás do Metrô, na Estação Santa Cruz, além do cruzamento com a Avenida Sena Madureira, tornando o local mais viável para a implantação da ciclovia.

A nova via para as bikes passa em frente a uma escola de mesmo nome da Rua, e no local foi montado um novo tipo de sinalização de cor azul, permitindo que os pais desembarquem seus filhos entre a faixa de rolamento e a ciclovia. Veja a imagem:
O projeto da CET de segregar espaços para o desembarque já é usado em Nova York:

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Não era difícil adivinhar que a medida teria duras criticas vindas sobretudo de motoristas do carro. E não só teve, como parte dos pais de alunos e funcionários da escola organizaram um abaixo assinado contra a ciclovia. O principal argumento dos motoristas e pais é uma possível falta de segurança, onde as crianças correriam riscos de ser atropeladas pelas bicicletas.

O cidadão que levanta esse tipo de argumento, desconhece dados oficiais sobre segurança viária: no último ano apenas um único caso de atropelamento por ciclista foi registrado em São Paulo, onde um idoso foi colhido por um ciclista na Zona Oeste. É um fato triste, já que o idoso faleceu, porém não podemos deixar de ignorar as outras muitas e infinitas mortes causadas pelo carro. Só em 2013, foram 1.152 mortes na capital. Os atropelamentos representam 44,7% das mortes com 515 vítimas fatais, segundo dados da CET.

Todos estes atropelamentos foram causados por veículos motorizados, ou seja, ônibus, caminhão, moto e principalmente vossa majestade, o carro! No entanto, não se tem notícia de alguma instituição de ensino que tenha promovido por exemplo, abaixo assinado para redução de limites de velocidades em vias que servem as escolas.

Neste episódio podemos observar a culta pró-carro passada de geração para geração. Em outras palavras, é possível ensinar a criança a ter cuidado com um carro na via, mas impossível explicar a convivência entre pedestre e ciclista?

Na verdade o motivo levantado por estes motoristas é apenas um pretexto para justificar seu velho e cômodo habito de usar o carro, ainda que a pratica seja acessível para apenas 20% da população que se desloca em São Paulo. Os outros 80% que se dividem entre transporte público, bicicleta e a pé.

Geralmente os questionamentos sobre as ciclovias, quando não são partidárias, são referente a uma possível falta de planejamento por parte do poder público. Após apresentados os estudos feitos pela CET, empresa que possuí um corpo técnico para tal, é questionado o número de habitantes beneficiados. Então é informado o número de pessoas que serão beneficiadas com base na pesquisa origem destino do Metrô, inclusive maior com que os que andam de táxi. A exemplo prático: 500 mil ciclistas usam a bike por dia em seus deslocamentos na cidade. Após 2015 este número deve saltar para 1 milhão e meio.

Mas voltando aos pais, este precisam ensinar aos filhos que as cidades são para as pessoas, e não para os carros…

Sobre o autor do post

Renato Lobo

Paulistano, profissional de Marketing Digital, técnico em Transportes, Ciclista, apaixonado pelo tema da Mobilidade, é o criador do Portal Via Trolebus.

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